Com o lema "No child without a smile" (Nenhuma criança sem um sorriso), os Palhaços sem Fronteiras, surgidos na Espanha, em 1993, levam diversão e esperança a milhares de pequenas vítimas da violência no mundo. Nesta entrevista, o professor, ator e palhaço Tim Cunningham, de 28 anos, integrante da seção americana do grupo, fala sobre sua participação em missões em países como Suazilândia, onde os Clowns estiveram em 2005 e ensinaram técnicas de malabarismo a crianças que hoje caminham para a profissionalização nessa arte.
Cunningham é um dos convidados do Antídoto - Seminário Internacional de Ações Culturais em Zonas de Conflito. Na quarta-feira, dia 18, ele participa, ao lado do contador de histórias, ator e dramaturgo israelense Shai Schwartz, da mesa de discussão A Ausência do Verbo Brincar: Crianças Armadas.
Revista - Inicialmente, gostaria que o Sr. se apresentasse e descrevesse o trabalho que desenvolve na organização Palhaços sem Fronteiras. Tim Cunningham - Sou professor, ator profissional e palhaço. Nos últimos cinco anos, apresentei-me internacionalmente com a organização Palhaços sem Fronteiras (CWB-EUA) e com outras organizações teatrais. Quando não estou atuando, dou aulas de palhaço e justiça social em faculdades e escolas de ensino médio nos Estados Unidos. Meu trabalho com a CWB-EUA já me levou para África do Sul, Suazilândia, Lesoto, Chiapas e Haiti, onde sou coordenador do trabalho desenvolvido pela organização. Também ajudo a desenvolver nosso maior projeto, o Njabulo, na África do Sul.
R - Como surgiu a iniciativa de criar essa organização, como ela é formada, que tipo de profissionais abriga e como é mantida TC - A Palhaços sem Fronteiras (Payasos sin Fronteras) foi fundada na Espanha em 1993, após Tortell Poltrona, um palhaço de Barcelona, ter-se apresentado no campo de refugiados de Veli Jose, na Croácia. Atualmente há seis organizações irmãs, na Espanha, França, Bélgica, Quebec, Suécia e Estados Unidos. Moshe Cohen trouxe a organização para os Estados Unidos em 1995. Nosso objetivo é levar riso e alegria para pessoas que sofrem com a pobreza extrema, guerra e doenças. Somos atores, palhaços, dançarinos, malabaristas e músicos. Palhaços sem Fronteiras é uma organização de voluntários e seu suporte vem de patrocinadores individuais e empresariais. Dedicamos muito do nosso tempo angariando fundos para podermos realizar o nosso trabalho.
R - Como a organização seleciona os lugares em que fará intervenções? O critério são os conflitos noticiados pela mídia? TC - Cada processo é diferente, dependendo do lugar para onde vamos. Em geral, os artigos da imprensa não têm nada a ver com a escolha do local. Pesquisamos uma área problemática e, então, com base em contatos que temos lá, as condições políticas do local, o montante de financiamento necessário à ação e a disponibilidade de artistas, decidimos se vamos ou não intervir nesse espaço. É muito difícil ir para áreas com problemas. Por exemplo, após o tsunami no sudeste da Ásia, achamos que deveríamos esperar por uma ocasião mais apropriada para a chegada dos palhaços. Outro exemplo é quando tentamos ir para o Haiti nesta primavera. A eleição foi adiada e nossa companhia aérea cancelou os vôos para a ilha devido à desordem política. Tivemos de reprogramar nosso trabalho lá.
R - Existe algum trabalho preparatório antes de a organização adentrar em regiões em conflito? TC - A maior parte do nosso treinamento é artística. Nós não passamos por nenhum treinamento de primeiros socorros ou de emergência antes de entrar em um local desses. Pesquisamos os aspectos culturais das áreas para onde vamos e tentamos aprender um pouco da língua, mas a maior parte do nosso treinamento concentra-se na preparação do show e no planejamento dos workshops. Como nossos artistas são voluntários, não temos fundos para dar suporte à sua preparação nos Estados Unidos, de modo que cada um é responsável por sua preparação da forma mais adequada possível.
R - O Sr. já esteve em várias partes do mundo que enfrentam conflitos, como consegue se aproximar de pessoas nessas situações? TC - Com a Palhaços sem Fronteiras, não estive em nenhum lugar em conflito armado. Já testemunhei atos de violência, já fui vítima deles ao realizar o trabalho. Sempre que chegamos a uma área de risco, nos esforçamos ao máximo para fazer o maior número de contatos e conhecer pessoas que possam nos ajudar se a situação se tornar violenta. Temos consciência de que corremos grandes riscos em muitas das áreas para onde viajamos. Sempre tentamos abordar as pessoas como pessoas... Afinal, todos somos seres humanos, independentemente do que fizemos, do que fizeram para nós ou do que vivenciamos. Nós somos isentos em nosso trabalho e nas interações com as pessoas que conhecemos. Estamos lá simplesmente para capacitar e fazer os outros rirem.
R - O Sr. tem relatos de que a ação da Palhaços sem Fronteiras tenha operado mudanças no cotidiano dessas pessoas? Em julho passado, viajei para a Suazilândia com uma outra organização de justiça social, a Wndsor Mountain International. Levei um grupo de alunos do ensino médio para um orfanato em Mbabane, onde já havíamos apresentado alguns shows de palhaços e realizado workshops. Quando cheguei, fui rodeado de crianças que se lembraram de mim e realizaram o show que eu havia apresentado para elas havia alguns meses. Na verdade, acho que elas foram mais engraçadas do que nós! As crianças atuaram para mim com tanta alegria e energia, era possível ver como a experiência que havíamos compartilhado com elas foi transformadora. Muitas das crianças também aprenderam os princípios básicos de malabarismo quando a CWB-EUA esteve lá pela primeira vez. Outras estão se tornando malabaristas capazes e não têm medo de apresentar seu talento.
R - O Sr. se posiciona politicamente quando está em trabalho em uma região de conflito entre duas ideologias ou povos oponentes? TC - De jeito nenhum! Tentamos nos manter neutros e simplesmente oferecer um espetáculo para dar alívio psicossocial ao nosso público. Não somos um grupo político, e nem estamos ali para agitar. Utilizamos nossa arte para entreter e unir comunidades por meio do riso.
R - Hoje em dia não é contra-senso falar em zonas de conflito uma vez que quase todo o mundo se encontra em conflitos de várias ordens? TC - É verdade que todas as partes do mundo têm algum tipo de necessidade, e eu pessoalmente acho que o riso e a alegria ajudam a curar a alma em várias situações. Buscamos trazer o riso para o maior número possível de pessoas nas áreas onde nós, como organização, percebemos a maior necessidade, e também onde sentimos que podemos ser mais úteis. Por exemplo, o braço americano da organização não seria útil agora no Iraque, devido à grande animosidade em relação aos Estados Unidos; entretanto, a representação da Espanha (Payasos sin Fronteras) poderia encontrar uma maneira de estar no país sem causar problemas políticos. Há tantos fatores em jogo na escolha do nosso destino... Na minha experiência, percebo constantemente o quão profunda é a necessidade, quanto mais vejo do mundo. Sempre haverá lugares onde poderemos oferecer nossos serviços.
R - O palhaço pode consertar o mundo? TC - Oxalá! Mas, infelizmente, não. Os palhaços não podem consertar o mundo. Pelo menos, não sozinhos. Eu acredito que os palhaços, com a ajuda de médicos, advogados, enfermeiras, políticos, encanadores, motoristas de táxi, músicos, lavadores de louça, podem fazer algo para melhorar o mundo trabalhando em conjunto. Há muito a ser realizado, e esperamos estar fazendo a nossa parte para melhorar as coisas neste planeta. Talvez a luz que oferecemos inspire outros a criar algo que é único para seu próprio ser, de forma que eles também possam ajudar a melhorar o mundo. Usamos esperança, sonhos, diversão e boa-fé para oferecer alegria a todos.
Cunningham é um dos convidados do Antídoto - Seminário Internacional de Ações Culturais em Zonas de Conflito. Na quarta-feira, dia 18, ele participa, ao lado do contador de histórias, ator e dramaturgo israelense Shai Schwartz, da mesa de discussão A Ausência do Verbo Brincar: Crianças Armadas.
Revista - Inicialmente, gostaria que o Sr. se apresentasse e descrevesse o trabalho que desenvolve na organização Palhaços sem Fronteiras. Tim Cunningham - Sou professor, ator profissional e palhaço. Nos últimos cinco anos, apresentei-me internacionalmente com a organização Palhaços sem Fronteiras (CWB-EUA) e com outras organizações teatrais. Quando não estou atuando, dou aulas de palhaço e justiça social em faculdades e escolas de ensino médio nos Estados Unidos. Meu trabalho com a CWB-EUA já me levou para África do Sul, Suazilândia, Lesoto, Chiapas e Haiti, onde sou coordenador do trabalho desenvolvido pela organização. Também ajudo a desenvolver nosso maior projeto, o Njabulo, na África do Sul.
R - Como surgiu a iniciativa de criar essa organização, como ela é formada, que tipo de profissionais abriga e como é mantida TC - A Palhaços sem Fronteiras (Payasos sin Fronteras) foi fundada na Espanha em 1993, após Tortell Poltrona, um palhaço de Barcelona, ter-se apresentado no campo de refugiados de Veli Jose, na Croácia. Atualmente há seis organizações irmãs, na Espanha, França, Bélgica, Quebec, Suécia e Estados Unidos. Moshe Cohen trouxe a organização para os Estados Unidos em 1995. Nosso objetivo é levar riso e alegria para pessoas que sofrem com a pobreza extrema, guerra e doenças. Somos atores, palhaços, dançarinos, malabaristas e músicos. Palhaços sem Fronteiras é uma organização de voluntários e seu suporte vem de patrocinadores individuais e empresariais. Dedicamos muito do nosso tempo angariando fundos para podermos realizar o nosso trabalho.
R - Como a organização seleciona os lugares em que fará intervenções? O critério são os conflitos noticiados pela mídia? TC - Cada processo é diferente, dependendo do lugar para onde vamos. Em geral, os artigos da imprensa não têm nada a ver com a escolha do local. Pesquisamos uma área problemática e, então, com base em contatos que temos lá, as condições políticas do local, o montante de financiamento necessário à ação e a disponibilidade de artistas, decidimos se vamos ou não intervir nesse espaço. É muito difícil ir para áreas com problemas. Por exemplo, após o tsunami no sudeste da Ásia, achamos que deveríamos esperar por uma ocasião mais apropriada para a chegada dos palhaços. Outro exemplo é quando tentamos ir para o Haiti nesta primavera. A eleição foi adiada e nossa companhia aérea cancelou os vôos para a ilha devido à desordem política. Tivemos de reprogramar nosso trabalho lá.
R - Existe algum trabalho preparatório antes de a organização adentrar em regiões em conflito? TC - A maior parte do nosso treinamento é artística. Nós não passamos por nenhum treinamento de primeiros socorros ou de emergência antes de entrar em um local desses. Pesquisamos os aspectos culturais das áreas para onde vamos e tentamos aprender um pouco da língua, mas a maior parte do nosso treinamento concentra-se na preparação do show e no planejamento dos workshops. Como nossos artistas são voluntários, não temos fundos para dar suporte à sua preparação nos Estados Unidos, de modo que cada um é responsável por sua preparação da forma mais adequada possível.
R - O Sr. já esteve em várias partes do mundo que enfrentam conflitos, como consegue se aproximar de pessoas nessas situações? TC - Com a Palhaços sem Fronteiras, não estive em nenhum lugar em conflito armado. Já testemunhei atos de violência, já fui vítima deles ao realizar o trabalho. Sempre que chegamos a uma área de risco, nos esforçamos ao máximo para fazer o maior número de contatos e conhecer pessoas que possam nos ajudar se a situação se tornar violenta. Temos consciência de que corremos grandes riscos em muitas das áreas para onde viajamos. Sempre tentamos abordar as pessoas como pessoas... Afinal, todos somos seres humanos, independentemente do que fizemos, do que fizeram para nós ou do que vivenciamos. Nós somos isentos em nosso trabalho e nas interações com as pessoas que conhecemos. Estamos lá simplesmente para capacitar e fazer os outros rirem.
R - O Sr. tem relatos de que a ação da Palhaços sem Fronteiras tenha operado mudanças no cotidiano dessas pessoas? Em julho passado, viajei para a Suazilândia com uma outra organização de justiça social, a Wndsor Mountain International. Levei um grupo de alunos do ensino médio para um orfanato em Mbabane, onde já havíamos apresentado alguns shows de palhaços e realizado workshops. Quando cheguei, fui rodeado de crianças que se lembraram de mim e realizaram o show que eu havia apresentado para elas havia alguns meses. Na verdade, acho que elas foram mais engraçadas do que nós! As crianças atuaram para mim com tanta alegria e energia, era possível ver como a experiência que havíamos compartilhado com elas foi transformadora. Muitas das crianças também aprenderam os princípios básicos de malabarismo quando a CWB-EUA esteve lá pela primeira vez. Outras estão se tornando malabaristas capazes e não têm medo de apresentar seu talento.
R - O Sr. se posiciona politicamente quando está em trabalho em uma região de conflito entre duas ideologias ou povos oponentes? TC - De jeito nenhum! Tentamos nos manter neutros e simplesmente oferecer um espetáculo para dar alívio psicossocial ao nosso público. Não somos um grupo político, e nem estamos ali para agitar. Utilizamos nossa arte para entreter e unir comunidades por meio do riso.
R - Hoje em dia não é contra-senso falar em zonas de conflito uma vez que quase todo o mundo se encontra em conflitos de várias ordens? TC - É verdade que todas as partes do mundo têm algum tipo de necessidade, e eu pessoalmente acho que o riso e a alegria ajudam a curar a alma em várias situações. Buscamos trazer o riso para o maior número possível de pessoas nas áreas onde nós, como organização, percebemos a maior necessidade, e também onde sentimos que podemos ser mais úteis. Por exemplo, o braço americano da organização não seria útil agora no Iraque, devido à grande animosidade em relação aos Estados Unidos; entretanto, a representação da Espanha (Payasos sin Fronteras) poderia encontrar uma maneira de estar no país sem causar problemas políticos. Há tantos fatores em jogo na escolha do nosso destino... Na minha experiência, percebo constantemente o quão profunda é a necessidade, quanto mais vejo do mundo. Sempre haverá lugares onde poderemos oferecer nossos serviços.
R - O palhaço pode consertar o mundo? TC - Oxalá! Mas, infelizmente, não. Os palhaços não podem consertar o mundo. Pelo menos, não sozinhos. Eu acredito que os palhaços, com a ajuda de médicos, advogados, enfermeiras, políticos, encanadores, motoristas de táxi, músicos, lavadores de louça, podem fazer algo para melhorar o mundo trabalhando em conjunto. Há muito a ser realizado, e esperamos estar fazendo a nossa parte para melhorar as coisas neste planeta. Talvez a luz que oferecemos inspire outros a criar algo que é único para seu próprio ser, de forma que eles também possam ajudar a melhorar o mundo. Usamos esperança, sonhos, diversão e boa-fé para oferecer alegria a todos.
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