"Os veganos gostam da marca porque defendemos o que eles acreditam" .
Criado em 1944, na Inglaterra, por Donald Watson, o movimento vegan, ou vegano, vem ganhando cada vez mais espaço na sociedade brasileira. Essa derivação do vegetarianismo abole o consumo de qualquer subproduto animal (incluindo carne, leite, ovos e mel), defende o direito dos animais e busca uma vida mais sustentável. Também vem se tornando um nicho de mercado interessante — que vai além do tradicional universo vegetariano. Roupas, produtos de beleza, joias, artigos de limpeza: há hoje no mundo produtos veganos em muitos setores.
No Brasil, não há dados sobre o número de seguidores da filosofia. Estima-se que 4% da população brasileira, cerca de 7,6 milhões de pessoas, seja de vegetarianos, muitos deles, veganos. Dados do Instituto Ipsos reforçam que 28% dos brasileiros têm procurado comer menos carne. “Há sinais de que esse é um mercado em ascensão”, afirma Marly Winckler, presidente da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB). A entidade é responsável pela certificação de produtos veganos no Brasil, selo entregue mediante uma análise rigorosa da cadeia produtiva, com taxas que variam de R$ 300 a R$ 1 mil, dependendo do tamanho da empresa.
Pioneira na aquisição do selo Vegano-Orgânico da Ecocert/SVB no país, em 2008, a Samurai Organic Foods, de Florianópolis (SC), produz 26 produtos à base de soja livres de ingredientes de origem animal. Faturou R$ 1,6 milhão no ano passado e espera crescer 89% em 2010. “A procura por alimentos vegetarianos e veganos já se popularizou. E, ao contrário de outros tempos, também permeia várias faixas etárias”, diz Roberto Perin, 44 anos, sócio da Samurai. "Estamos prevendo neste ano um faturamento 50% maior do que os R$15 milhões de 2009"
A afirmativa é confirmada pela empresária Clélia Angelon, 61 anos, dona da Surya Brasil, indústria de cosméticos, com sede em São Paulo, única no país a ostentar o certificado Vegan, emitido pela instituição americana Vegan Action. No mundo, apenas cem empresas têm o mesmo selo. “Ser vegano faz parte do nosso DNA. Fazemos questão de divulgar essa conduta no Brasil e nos 22 países onde atuamos”, diz Clélia. “O próximo passo é buscar a certificação também para a linha de alimentos que acabamos de colocar no mercado.” Com lançamentos na área de beleza e dois novos spas, um deles em Nova York, a Surya espera faturar neste ano 50% mais que os R$ 15 milhões registrados em 2009.
Nascidas ou não com o DNA vegano, as empresas que atuam nesse mercado sofrem com a carência de fabricantes e com a falta de ferramentas para rastrear a cadeia produtiva. “Quando recusei usar couro natural na coleção, o fornecedor não entendeu por quê. Desde o início eu só trabalho com matéria-prima sintética, do tecido aos aviamentos”, afirma a estilista Carolina Caliman, 27 anos, dona da confecção King 55, de São Paulo, com nove anos de mercado e um faturamento médio anual de R$ 900 mil. A dificuldade é sentida até pelo grande varejo. “Temos apenas 15 fornecedores veganos com certificação, os demais são controlados por meio de documentação oferecida pelo próprio cliente”, afirma Donato Ramos, diretor de marketing da Mundo Verde, rede de produtos naturais com 150 lojas no Brasil. Segundo Ramos, esse é um mercado em formação, que cresce ano a ano. Hoje, dos 5 mil itens vendidos pela rede, apenas cem têm registro vegano e respondem por 1% do faturamento de R$ 89 milhões em 2009 — isso sem considerar os produtos com origem 100% vegetal, mas sem registro vegano.
Marly, da SVB, estima que dois mil brasileiros se convertem ao vegetarianismo toda semana. Os veganos são o nicho do nicho, porém, um mercado também crescente, que possibilita criar diferentes tipos de produtos e serviços. Desde que o negócio suporte genuinamente sua filosofia de vida, tem grandes chances de sucesso. “Os veganos gostam da nossa marca porque defendemos algo em que eles acreditam. Até as pessoas que não são veganas admiram nosso negócio”, diz Carol, da King 55.
Revista Época
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