segunda-feira, 26 de julho de 2010

DEMOCRACIA NA POLÍTICA SE FAZ NA INTERNET SITE VOTE NA WEB

Fernando Barreto

Em seu escritório, em São Paulo, e a home do site Vote na Web. Ele quer melhorar a democracia. O voto legislativo é um instrumento usado pelos cidadãosele transfere responsabilidade política a um representante com a finalidade de propor e votar leis para melhorar o país.

A tarefa é de importância indiscutível, mas pouca gente tem condições – e paciência – para fiscalizar se o candidato que escolheu está correspondendo a suas expectativas.

Para facilitar a vida de quem pretende acompanhar os passos dos políticos, nasceu, no final do ano passado, o projeto Vote na Web (http://www.votenaweb.com.br/). Ele reúne na internet todos os projetos de lei que entram em votação na Câmara ou no Senado.

O site permite ainda que o internauta sinta o gostinho de agir como político. Funciona assim: a cada projeto de lei que entra em votação, o Vote na Web cria uma página na qual os leitores podem ler o texto e opinar: “Sim” ou “Não”. A votação digital pode ser feita enquanto o projeto estiver tramitando no Congresso. Depois que ele é aprovado ou reprovado, o site compara a escolha do público com aquela que foi feita pelos políticos. O Vote na Web mostra quais parlamentares votaram, se foram contra ou a favor do projeto e de que região eles são. Todos os deputados e senadores têm uma página exclusiva no Vote na Web. Além de uma ficha técnica com suas origens e o histórico na vida política, é possível descobrir ali quantos projetos de lei o político sugeriu e como votou em cada situação.

Por trás desse trabalho em prol da cidadania está o publicitário mineiro Fernando Barreto, de 37 anos, sócio da Webcitizen, que desenvolve sistemas especializados em engajamento social pela internet. Seus clientes são órgãos públicos, ONGs e empresas interessadas em usar a web para mobilizar as pessoas por uma causa, seja ela filantrópica ou comercial.

Ao mesmo tempo que coloca o cidadão em contato com o Poder Legislativo, Barreto usa o Vote na Web como vitrine para conseguir novos clientes. “Todas essas informações estão ao alcance dos eleitores em diversos sites do poder público”, afirma Barreto. “O que fizemos foi reuni-las num único lugar e com design mais atraente.” Seu objetivo: ajudar a resgatar o respeito pela atividade política. “Se a política não tem credibilidade, a democracia não evolui”, afirma.

Não é só o design atraente que torna o Vote na Web uma ferramenta de cidadania interessante. O site tem um sistema de busca que permite ao internauta fazer pesquisas parlamentares detalhadaspor assunto, por político e por Estado.

O resultado pode ser luminoso. O senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) propôs um projeto de lei que obrigava estudantes de instituições públicas de ensino superior com renda superior a 30 salários mínimos a pagar uma taxa anual para a universidade. Pela escolha popular, o projeto seria aprovado com 67% dos votos. O Congresso, no entanto, o reprovou com 100% dos votos. Já o deputado Zequinha Marinho (PSC-TO) propôs um projeto de lei proibindo a adoção de crianças por homossexuais. Na votação popular, ele vem sendo rejeitado por 78% dos internautas – exceto nos Estados do Tocantins, Maranhão e Piauí, onde vence. O texto ainda tramita em Brasília.

Alguns dos projetos de lei colocados no site (são inseridos entre 60 e 80 deles por mês) tiveram mais de 1.200 votos de internautas. Alguns de seus fóruns chegam a ter centenas de comentários contra ou a favor de determinados projetos. Cerca de 1.100 pessoas seguem as novidades do site pelo Twitter. Oitocentas pessoas estão cadastradas para receber informações do Vote na Web. “Até maio passado, estávamos montando o acervo de informações”, diz Barreto. “Faz pouco tempo que as pessoas começaram a interagir.”

O projeto levou Barreto a receber um convite da Organização das Nações Unidas (ONU) para participar de um congresso no mês passado, em Barcelona, que discutia o uso da tecnologia para o engajamento civil.

A Webcitizen foi a única empresa brasileira a chegar lá, entre mais de 100 participantes. “O projeto teve retorno positivo e entusiasmado da audiência”, afirma Anni Haataja, do Departamento de Interesses Socioeconômicos da ONU. Barreto também tem feito viagens para os Estados Unidos, onde participa de reuniões na ONU como consultor. Ela tenta ajudar a entidade a levar sistemas como o Vote na Web a países com outra cultura política. “É importante ter o apoio de pessoas do setor privado como Barreto”, diz Anni. “Sem isso, nenhuma instituição consegue implementar mudanças.” 

Revista Época

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