quinta-feira, 29 de abril de 2010

ÁGUA AQUÍFERO GUARANI


Um imenso depósito de água embaixo de nossos pés. Com uma extensão de 1,2 milhão de quilômetros quadrados e capacidade para armazenar até 160 trilhões de litros de água, o Sistema Aquífero Guarani (SAG) é o maior reservatório transfronteiriço da América do Sul, situado entre Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. A maior parte está no Brasil, onde ocupa uma área subterrânea de 840 quilômetros quadrados. Cerca de 15 milhões de pessoas vivem sobre os locais de influência do aquífero.

Pesquisas da Embrapa Meio Ambiente apontam que os 40 trilhões de litros utilizáveis do Guarani (porção que pode ser obtida com segurança e para a qual já há tecnologia de extração disponível) seriam suficientes para abastecer, por um ano, duas vezes e meia a população brasileira, a um consumo médio diário per capita de 250 litros d'água - dobro da quantidade sugerida pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

O principal uso do Guarani atualmente é o abastecimento das cidades. Mas alguns setores da indústria e da agricultura também têm o reservatório como fonte de fornecimento, com a vantagem de que a água não precisa de tratamento. Na região de Ribeirão Preto, SP, por exemplo, a citricultura é irrigada pelo aquífero, demandando cerca de 400 mil litros d'água por hora.

No Brasil, o aquífero atinge os estados de São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Minas Gerais e Goiás. São Paulo é o maior consumidor. Cerca de 17% da demanda por água do estado é feito pelo Guarani. As principais cidades do norte, noroeste e oeste do estado utilizam suas águas, com destaque para Ribeirão Preto (100% abastecida por ele), São Carlos, Bauru e Araraquara.

Qualquer pessoa pode usufruir da riqueza do sistema Guarani. Não existe no Brasil um órgão regulador único que fiscalize a exploração. O controle é feito pelos estados, que têm uma legislação específica. "A legislação pode ser diferente, mas há normas gerais quanto ao monitoramento e à classificação da água subterrânea", diz Fernando Roberto de Oliveira, gerente de águas subterrâneas da Agência Nacional de Águas (ANA).

Para explorar esse recurso hídrico, é necessário que o departamento que administra as questões da água em cada estado conceda a outorga para perfuração de poços. Mas o controle interestadual tem gerado polêmica entre pesquisadores, justamente porque o aquífero abrange áreas que ultrapassam as fronteiras nacionais, por isso seria necessário ter uma legislação que regulamente o uso para que não haja excessos e para que a exploração seja feita de forma sustentável nos quatro países abrangidos pelo Guarani. "Pode ser que no futuro haja alguma intervenção da União, uma vez que o aquífero é de abrangência continental e de caráter transfronteiriço", diz Marco Antônio Ferreira Gomes, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente, de Jaguariúna, SP.

O Departamento de Águas e Energia Elétrica (Daee) de Ribeirão Preto, SP, estima que existam cerca de 150 mil poços regularmente explorados em todo o sistema. Não há limite de exploração, mas o órgão avalia a quantidade de água necessária ao tipo de atividade exercida.

Cerca de 90% da água do aquífero está confinada, ou seja, protegida por rochas, e 10% está em áreas de afloramento. Essas últimas estão mais suscetíveis à poluição. De acordo com especialistas, não é possível falar em uma ameaça em curto prazo. As camadas de rocha basálticas e arenitos que separam a água da superfície dificultam a penetração desses poluentes. Porém, para o diretor do Daee de Ribeirão Preto, Carlos Alencastre, a existência de cemitérios e lixões próximos às áreas de recarga pode causar um escoamento de substâncias danosas à qualidade da água do reservatório.

Já a sustentabilidade do Guarani está em perigo pela extração em excesso. "Em Ribeirão Preto, por exemplo, extrai-se 13 vezes mais do que a capacidade de recarga", diz Alencastre, informando que a superexploração pode provocar um afundamento da área. Ele conta que, há algum tempo, pesquisas da Embrapa Meio Ambiente constataram contaminação por substâncias utilizadas na agricultura, um dos riscos a que as áreas de afloramento estão suscetíveis. Mas ressalva que a coleta foi feita em áreas de água rasa, assim, não há como confirmar a poluição, pois o reservatório é profundo (pode chegar a 1.500 metros de profundidade). "Não existe informação segura sobre contaminação, até porque os produtos químicos, agrotóxicos e fertilizantes, usados apresentam degradação rápida no ambiente", esclarece o pesquisador.

O Guarani, segundo ele, tem grande potencial estratégico, tratando-se de uma reserva que poderá ser utilizada pelas gerações futuras de todos os países que o compõem. "O aquífero tem um valor inestimável. Mas, se não tomarmos cuidado, isso poderá se perder", diz.

Globo Rural

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