sábado, 19 de julho de 2014

COMO A HONRA PODE MUDAR O MUNDO


Kwame Anthony Appiah admite que foi difícil encontrar trabalhos escritos nos últimos duzentos anos sobre honra. Assim como no resto da sociedade, os próprios filósofos parecem ter considerado que ela é uma ideia antiquada demais para os tempos atuais
 
Códigos de honra podem parecer relíquias do passado — conjuntos de regras que dizem respeito a sociedades arcaicas, ou rigidamente estruturadas. O filósofo inglês Kwame Anthony Appiah, hoje professor da Universidade Princeton, nos Estados Unidos, pensa de outro modo: a honra é, hoje, mais importante do que nunca. “Quando falamos em honra, estamos falando em direito ao respeito, e isso definitivamente não saiu de moda, faz parte de nosso vocabulário moderno”, diz ele.

Em seu livro mais recente, O Código de Honra: Como Ocorrem as Revoluções Morais (Companhia das Letras), Appiah tenta reabilitar a honra para os tempos atuais. Segundo o pensador, ela estaria relacionada a uma característica básica da psicologia humana: o desejo de ser respeitado pelos pares. Um código de honra nada mais seria do que o conjunto de regras que ditam quais comportamentos dão direito ao respeito e quais causam vergonha dentro de um certo grupo. Assim, a honra estaria em constante mutação, evoluindo junto com a sociedade e suas práticas.

Nascido na Inglaterra, criado em Gana e residente os Estados Unidos, o filósofo reúne uma série de exemplos de todo o mundo para mostrar como mudanças em códigos de honra já levaram a uma sociedade melhor. Nesta entrevista ao site de VEJA, ele explica como conhecer essas histórias — o fim da escravidão, da prática de amarrar os pés de mulheres chinesas e dos duelos entre cavalheiros europeus  — pode ajudar a melhorar o mundo de hoje:

Muitas pessoas pensam que os códigos de honra são relíquias do passado. Por quê? A principal razão é boa. Acontece que os antigos códigos de honra eram sexistas e antidemocráticos, e agora vivemos em uma sociedade que se considera antissexista e democrática. Então, se os códigos de honra fossem só isso — se eles só existissem nessas formas excludentes — haveria uma razão para sermos totalmente céticos quanto a eles. Mas eu não penso que isso seja tudo. Quando falamos em honra, estamos falando em direito ao respeito, e isso definitivamente não saiu de moda, faz parte de nosso vocabulário moderno. Uma das características da democratização de nossa política é o reconhecimento de que todos têm direito ao respeito — queremos ver isso em nossos códigos legais e nas práticas sociais da vida moderna. Para usar a honra no mundo de hoje, tivemos que nos livrar de seu caráter antidemocrático e violento. Se houvesse alguma outra palavra que não tivesse essas associações — e não remetesse ao passado—, eu não veria problema em usarmos, mas não conheço essa palavra. Então, eu digo que devemos usar a palavra honra admitindo que ela já teve essas associações ruins e afirmando que é muito importante nos livrarmos delas.

Onde podemos ver os códigos de honra funcionando hoje em dia? Em vários lugares. Nós temos, por exemplo, os códigos de honra profissionais. Podemos pensar no código dos advogados, que faz com que eles sigam suas regras e se respeitem. Eu não entendo esse código e não sou governado por ele, mas ele gera obediência e respeito entre pares. Como esse, existem outros códigos de ética profissionais, como o dos médicos e o dos professores. Outro exemplo claro são os militares. Eles têm uma preocupação profissional com a honra, usam seu código como um modo de disciplinar uns aos outros. Eles são pessoas para quem fornecemos ferramentas que podem ser usadas para matar, por isso, precisam desse controle mais rígido, feita a partir da honra e da vergonha. Além desses casos, existe a honra coletiva, que surge a partir do modo como nos identificamos. Um exemplo óbvio disso é a honra nacional: você precisa ser um brasileiro para estar preocupado com a honra do Brasil. Eu devo me ver como um americano para me preocupar com as coisas honradas ou vergonhosas que são feitas em nome dos Estados Unidos.

De onde surge a honra? Nossos cérebros estão programados para seguir esse tipo de conduta? Não sei quanto disso está programado em nossa genética e quanto é um resultado dos processos sociais que fazem parte de se tornar um ser humano vivendo em sociedade. Mas o que eu sei é que todos os seres humanos normais, já no tempo de sua puberdade, possuem essa preocupação com o respeito que merecem em sua sociedade, em seu grupo social e entre as pessoas com que convivem. Isso está tão construído internamente que não sabemos como nos livrar disso. Se você for criado em sociedade, vai inevitavelmente ter essa preocupação com o respeito e o direito de ser respeitado — e é disso que trata a honra. Logo, a questão não pode ser sobre como nos livramos da honra, não sabemos como fazer isso. Devemos pensar em como mudá-la para melhor.

Então a honra pode estar próxima da moral? Falando psicologicamente, a honra é distinta da nossa tendência moral. Elas podem ter interseções — algum código de honra pode eventualmente apoiar um bem moral—, mas elas nunca são completamente idênticas. Costumamos usar a honra para pensar em coisas que pouco têm a ver com a moralidade. Por exemplo, podemos escolher honrar grandes pensadores, artistas e esportistas — e o modo como eles se destacam não são modos morais. Picasso não era um grande herói moral, mas todos o honramos como artista. Por outro lado, a honra também pode ir contra a moralidade, levando a assassinatos, por exemplo. Logo, elas não são a mesma coisa, mas podemos tentar torná-las compatíveis. E, assim, tornar a honra mais democrática e menos violenta.

É possível descobrir quando surgiu o primeiro código de honra? Eu penso que os códigos sobre os quais vivemos descendem de códigos antigos que, por sua vez, descendem de códigos ainda mais antigos, que têm origem antes da própria História — antes de termos qualquer tipo de registro. Se pensarmos nos textos mais antigos que conhecemos, podemos nos lembrar dos textos egípcios, da poesia homérica e do que hoje chamamos de Antigo Testamento. Já nesses livros é possível encontrar honra por todos os cantos. Acontece que só é possível identificar a honra pela linguagem — só podemos descobrir que ela existe quando temos como saber os motivos que levaram as pessoas a agir de determinado jeito. E ela já está presente nos textos mais antigos que conhecemos. Ela é tão antiga quanto a História.

Mas esses códigos podem mudar? Afinal de contas, nós não vivemos sob as mesmas regras que governavam os gregos antigos. Esse é um ponto crucial de minha tese. Hoje, quando alguém lê a Ilíada, e se depara com a história de Aquiles, chega à conclusão de que ele era louco. Não existe outro modo de falar, tudo que ele faz parece loucura aos olhos de hoje. Mas, de algum modo, nós podemos entender por que ele faz aquelas coisas. Ele está em busca do respeito a que pensa ter direito. Ele entra e sai da guerra, sempre em nome da honra. Nós podemos entender suas ações, mas também sabemos que é muito diferente de nosso modo de nos comportar. Se alguém que conhecemos hoje em dia agisse assim, nós o mandaríamos para o psiquiatra.

Essas mudanças no que consideramos honrado ou vergonhoso também aconteceram mais recentemente? Elas não param de acontecer. Em meu livro, analiso o código de honra por trás dos duelos que eram praticados entre os nobres ingleses. Antes do século XVIII, a resposta a um artigo que você considerasse ofensivo em um jornal poderia ser desafiar o editor para um duelo. Eles costumavam pensar que um cavalheiro era uma pessoa que estava disposta a lutar, tanto por sua honra quanto pela honra de seu rei, de seu país. Com o tempo, nós mudamos, passamos de uma sociedade onde o alto status entre os homens era associado com a violência para uma sociedade onde esse mesmo status passou a ser associado ao autocontrole. Essa é uma invenção do século XIX: a ideia de que você não deve responder com violência a uma provocação, que o verdadeiro cavalheiro nunca faria nenhum mal a alguém. Essa ideia não faria sentido para Aquiles — que pensaria que estamos todos loucos —, e também não faria sentido para os cavalheiros do século XVIII. Ou seja, os códigos de honra mudam ao longo do tempo, eles não estão fixados eternamente. E isso é bom, pois significa que, quando vemos que a honra está do lado errado, podemos tentar mudar essa situação.

No caso do duelo já existiam argumentos racionais contra a prática muito tempo antes de ela acabar, mas ela só foi interrompida quando passou a ser considerada desonrosa. Por que isso aconteceu? Eu só descobri isso enquanto pesquisava para o livro — e foi uma grande surpresa para mim. O que é realmente interessante na prática do duelo é que ele era ilegal durante todo o tempo em que aconteceu. Ele também era condenado pela igreja, e as pessoas conheciam os argumentos que existiam para considerá-lo errado. Os críticos da prática viviam apontando, por exemplo, que a vitória no duelo não dependia de alguém ter razão numa queixa, nem dava razão a ninguém — o que torna o duelo um modo realmente louco de resolver disputas. No entanto, as pessoas duelavam. Isso me surpreendeu: a honra pode ser um poder por si só. Em alguns momentos, ela pode ser mais poderosa do que os outros sistemas normativos. A prática só mudou quando as pessoas começaram a se sentir envergonhadas por apelar a ela. Hoje, ninguém acha certo matar outras pessoas porque se sentiu ofendido, preferimos levar a questão para os tribunais. O que consideramos honroso mudou.

Nesse caso e em outros que o senhor analisa, mudanças no código de honra são capazes de acabar com uma prática antiga de forma muito rápida, no tempo de uma geração. Como isso é possível? Isso também foi uma surpresa para mim. Há algo de positivo nesse fato, porque uma geração, em termos históricos, não é muito tempo - embora seja um tempo grande na vida de uma pessoa. O que isso sugere é que para acontecer essa mudança, uma nova geração cresce com uma visão diferente da anterior. Não é como se as pessoas mudassem de ideia, mas como se uma nova geração tivesse uma nova imagem do mundo da honra. Como se ela tivesse uma versão diferente do código. Eu vi isso acontecendo aqui nos Estados Unidos, na questão da atitude perante os homossexuais. Quando vim para esse país, no começo dos anos 1980, os homossexuais sofriam bastante preconceito. Era comum eles apanharem, serem atacados ou até presos, simplesmente por andar de mãos dadas na rua. Hoje, quando descrevo esse cenário para meus alunos de 19 anos, eles acham tudo isso muito estranho. Eles nem chegam a pensar que é errado. É um comportamento tão estranho para eles que parece simples loucura. Eles já possuem uma versão diferente do código de honra. A conclusão desse raciocínio pode, na verdade ser ruim — ele é uma evidência de que os seres humanos não são muito receptivos aos argumentos morais. Se fossem, poderíamos simplesmente mudar a mente das pessoas mais velhas. Mas, ao contrário, a esperança de mudança está sempre entre os mais jovens.

Podemos aprender com essas revoluções morais do passado? Elas não nos fornecem um livro de regras, mas nos dão pistas para seguir. O ponto principal é que elas nos dão esperança: o fato de as pessoas passarem milhares de anos fazendo a mesma coisa não significa que a prática não possa ter fim. Pense no caso da escravidão. Até o século XIX, nós podíamos encontrar escravos em todos os lugares. Durante uma aula, surpreendi meus alunos ao contar que conheci pessoas que eram escravas, porque a escravidão só foi abolida em Gana nos anos 1920. Mas hoje esse tipo de escravidão acabou completamente, mesmo estando espalhada por todos os cantos do mundo durante milhares de anos. Essa é primeira lição que podemos aprender: que práticas antigas podem ser mudadas. A segunda lição é que, se quisermos mudar os códigos de honra, não podemos contar só com os argumentos morais. Veja bem, Aristóteles defendia a escravidão na Grécia antiga, mas, na mesma época, já havia pensadores que a atacavam. Os argumentos não bastam, você tem que fazer as pessoas colocarem um investimento de honra em estar do lado certo da questão. Isso é importante porque — como eu disse em relação a Aquiles — nós podemos discordar dos códigos de outras sociedades, mas também podemos compreendê-los. Isso significa que podemos interagir com as pessoas do outro lado, independente das diferenças que existam, e tentar levá-las para um caminho melhor. E, é claro que, ao fazer isso, eles também poderão tentar nos levar a um comportamento melhor.

O senhor está dizendo que, ao dialogar com outra sociedade, podemos passar a nos preocupar com o respeito que eles nos dão? Isso mesmo, abrir as fronteiras de um país pode fazer seu mundo de honra aumentar. Os americanos sabem disso. Em sua Declaração de Independência, afirmam que possuem uma preocupação decente com a opinião de toda a humanidade. Logo, a declaração é endereçada para o mundo como um todo, não só para os americanos ou as autoridades coloniais britânicas. Isso significa que eles estavam convidando todos os povos para se enxergarem como parte de uma única comunidade moral, eles estavam tentando articular ideias universais no documento.

Como a opinião do resto do mundo pode mudar o comportamento dentro de um país? Foi o que aconteceu no fim do Apartheid, por exemplo. Parte dos sul-africanos ainda acreditavam no sistema, mas já não podiam andar de cabeça erguida perante o resto do mundo. Os outros países estavam olhando e julgando suas ações. Você pode até suportar isso por algum tempo, mas não para sempre. Então é uma estratégia que funciona. Mas precisa ser feita com muito cuidado, ou pode ter o resultado inverso. Há exemplos históricos famosos onde esse tipo de intervenção em outras sociedades foi contraproducente. Um dos mais famosos é o modo como a Igreja de Escócia criou um programa para acabar com a circuncisão feminina no Quênia, nos anos 1930. Ele não só não levou ao final da prática, mas a fez ser exercida com mais vigor – como um tipo de resistência anticolonial. A circuncisão acabou se tornando um símbolo de identidade nacional, e ainda acontece em alguns lugares do país.

Então não é sempre que a vergonha internacional é uma boa arma para mudar um comportamento? Na verdade, a vergonha por si deve ser usada com muito cuidado. O que me levou a começar a pesquisar sobre honra foi o caso da amarração dos pés entre as mulheres da China, que aconteceu até o século XIX. Ele era um hábito inicialmente associado com a honra das nobres chinesas, mas no final passou a ser visto como uma vergonha. Quando eu comecei a estudar esse caso, minhas pesquisas eram voltadas para a cidadania global, e me interessei pelo assunto porque era um exemplo de como pessoas de uma sociedade podiam influenciar o comportamento de outras, em outra parte do mundo. Acontece que, na China, a razão de a pressão internacional ter funcionado é que os críticos estrangeiros da prática, — um grupo formado por missionários cristãos e mulheres de empresários europeus vivendo no país —, eram profundamente respeitosos à civilização chinesa. Eles não gostavam da amarração de pés, mas não tinham desprezo pela China. Quando as críticas vieram, elas vieram de pessoas que estavam olhando nos olhos dos chineses, os tratando com respeito. E isso funcionou. Eu acho que se eles simplesmente apontassem o dedo em sua cara e dissessem que a prática era uma vergonha, não funcionaria. Você precisa ter como pano de fundo um diálogo respeitoso. A vergonha não precisa ser apontada, ela surge espontaneamente na pessoa com quem você está dialogando, como resposta à visão que você tem de suas práticas.

O senhor consegue ver algum código de honra ainda em funcionamento no mundo de hoje que deveria ser mudado? E como fazer isso? Existem inúmeros. Uma das questões que mais me choca no momento são os assassinatos por honra realizados em países como o Paquistão, em que meninas são mortas por agir de modo que suas famílias consideram desonroso — fazendo sexo fora do casamento, por exemplo. A dificuldade nesse caso é que esse tipo de crime é mais comum em sociedades muçulmanas (isso hoje em dia, antigamente a prática era comum no mundo todo, inclusive em sociedades cristãs). O problema é que o fato de os assassinatos de honra acontecerem principalmente no mundo islâmico causa uma impressão de guerra de civilizações, que eu penso ser incorreta. Veja bem, eu tenho respeito pelo Islã e muitos outros americanos também têm — muitos inclusive são muçulmanos —, mas a sociedade americana como um todo é profundamente islamofóbica e ignorante em relação a esse assunto. Assim, qualquer crítica que venha daqui pode ser facilmente rejeitada por alguém do Paquistão. As sociedades muçulmanas tendem a responder às criticas morais vindas do Ocidente dizendo: “é claro que vocês não aprovam o que fazemos, vocês não nos respeitam e não respeitam as nossas ideias. Não devemos nos preocupar com o que vocês pensam”. Minha impressão sobre esse tema é que deveríamos, simplesmente, ficar quietos. Deveríamos deixar os críticos internos à prática no Paquistão — e eles existem aos montes — fazer o seu trabalho. Nós podemos ajudar, enviando-lhes dinheiro, por exemplo, mas o que dizemos como americanos ou ocidentais não pode ajudar muito. Até termos uma relação mais respeitosa com as sociedades muçulmanas, de lado a lado, acho que nossos argumentos morais não vão funcionar muito bem em um país como o Paquistão.

O senhor acha que seria possível no futuro, com o contato cada vez maior entre as diferentes sociedades, existir um único código de honra para todo o mundo? Bom, essa é uma pergunta para um profeta responder, e não sou um profeta. Mas o que acho que seria desejável é conseguirmos um acordo global. Não em termos de uma grande teoria moral, mas sobre alguns padrões básicos em relação ao que deveria ser garantido a todos os seres humanos do mundo. E isso está acontecendo. Temos um exemplo ocorrendo agora mesmo no mundo. Os países ao redor do planeta diferem em inúmeras coisas, mas apenas dois deles ainda não concordaram que, não importa o que você faça durante em uma guerra, não deve matar seu adversário usando armas químicas. São a Síria e a Coreia do Norte — as últimas nações que sobraram. E a Síria está a ponto de assinar o acordo. Hoje, a maioria dos países dá apoio verbal aos direitos humanos. Isso não quer dizer que eles cumpram esses princípios o tempo inteiro — as condições nas quais os prisioneiros são tratados nas cadeias americanas e a prisão de ativistas na China mostram isso claramente — mas eu diria que esse compromisso verbal é um primeiro passo. A partir do momento que dizemos que vamos fazer algo, podemos ser cobrados por isso.

Isso poderia levaria todas as sociedades a seguirem os mesmos princípios? Não imagino que todas as sociedades — ou todos os grupos dentro de uma sociedade — vão terminar pensando do mesmo modo sobre todas as questões normativas. Por exemplo, eu cresci entre Gana e Inglaterra. As estruturas das famílias são diferentes nesses dois lugares. Na tradição da família de meu pai, ganesa, você pertence à família de sua mãe, e a autoridade masculina em sua vida é o irmão da sua mãe. Na Inglaterra, você pertence à família de seu pai e é ele o principal homem em sua vida. Não acho que exista qualquer razão para pensar que alguma dessas estruturas é melhor que a outra. São apenas dois modos diferentes de se organizar. Talvez o modo britânico seja melhor adaptado à economia do mundo moderno, onde as pessoas não vivem mais cercadas por toda a sua família, mas em pequenos casais. Assim, o convívio direto com o tio fica difícil. Mas não havia nada de moralmente errado com o modo como se vivia antes. Do mesmo modo, todos podemos concordar com a democracia, mas algumas sociedades podem escolher o presidencialismo e outras o parlamentarismo. Nós podemos concordar com o quadro básico dos direitos humanos — todos devem ter acesso a boa nutrição, cuidados médicos e direitos políticos — mas podemos discordar quanto aos motivos de esses direitos serem desejáveis. Os católicos poderão dizer que isso é desejável porque todos são filhos de Deus. Um ateu terá uma teoria diferente, porque ele não acha que a moral vem de Deus. Tudo bem também. Na verdade, desde a Declaração Universal dos Direitos Humanos, grande parte do mundo concorda sobre algumas premissas básicas. Isso está acontecendo, não é uma profecia.

Revista Veja

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