quinta-feira, 3 de junho de 2010

LAMA DO MAR GERA ENERGIA PARA 1 MILHÃO DE HABITANTES

Lama de barragem da Samarco chega ao mar no ES

Projeto da Universidade Federal de Rio Grande reaproveitará sedimento retirado de canal portuário para gerar energia suficiente para abastecer uma cidade de 1 milhão de habitantes. Da mistura de lama, areia e resíduos orgânicos, retirada do fundo do mar, virá a energia capaz de abastecer uma cidade de 1 milhão de habitantes. Um projeto pioneiro desenvolvido no Rio Grande do Sul promete gerar energia elétrica a partir de micro-organismos presentes nos sedimentos da dragagem do canal do Porto de Rio Grande. Em cinco anos, a usina ecológica poderá chegar ao pico de 580 megawats por hora e economizar até R$ 6 bilhões.

– É a capacidade de uma termelétrica do porte de Candiota, sem a produção de gás carbônico. Uma nova fonte de energia, com grande potencial de exploração – destaca o professor Fabrício Santana

Ao lado da professora Cristiane Ogrodowski, Santana coordenadora d o estudo desenvolvido há dois anos no Laboratório de Controle de Poluição da Escola de Química e Alimentos (EQA) da Universidade Federal do Rio Grande (Furg). Marcos Satte de Amarante, Renato Dutra Pereira Filho, Henrique Bernardelli e Sérgio Przyzylski completam o grupo.

Mais do que uma fonte de energia, a iniciativa resolve um problema comum a todos os portos: o que fazer com o material dragado? As dragagens são processos para remover sedimentos que se acumulam com o tempo no fundo do mar, a fim de manter ou aumentar a profundidade dos canais portuários, garantindo o acesso seguro dos navios. Em Itajaí, Santa Catarina, é utilizado o sistema de injeção d’água, que limpa o canal e redistribui os sedimentos. Já em Rio Grande o sistema é o de sucção. Uma embarcação chamada draga suga os resíduos, descartados a 20 quilômetros da costa, em áreas de grandes profundidades.

É deste material, aparentemente sem serventia, que virá a energia elétrica, além de milhares de toneladas de areia e lama. Para isso, os pesquisadores adotam a tecnologia do micróbio elétrico (micro-organismo com capacidade de gerar eletricidade), que teve por base descobertas da década de 60, na Bélgica e nos Estados Unidos. O processo aproveita todo o sedimento retirado do canal. Areia e lama, que correspondem a 96% do material, podem ser comercializadas na construção civil. O restante, onde estão presentes os micróbios elétricos, é utilizado na produção de energia

O processo aproveita a respiração desses micróbios, que durante a queima (oxidação) da matéria orgânica liberam elétrons, captados por um condutor que gera a corrente elétrica (eletrodos). Associado ao sistema, um circuito elétrico converte a voltagem para valores comerciais tradicionais – 110 ou 220 volts.

Em pequena escala, como nos trabalhos realizados em laboratórios hoje, a quantidade de energia obtidas parece pequena. Porém, como a dragagem do Porto do Rio Grande produz 1,5 milhão de metros cúbicos de sedimentos ao ano, os números decolam. Em cinco anos, segundo a previsão do próprio porto, serão removidos 6,5 milhões de metros cúbicos de resíduos.

A materialização dessa tecnologia depende da construção de uma planta piloto para o tratamento dos sedimentos, prevista para começar no segundo semestre. Para isso, a Secretaria Estadual da Ciência e Tecnologia investirá R$ 300 mil, o porto cederá a área e mais R$ 60 mil, e a Furg subsidiará outros R$ 640 mil, pagos em horas de trabalho dos pesquisadores. No total será investido R$ 1 milhão em três anos.

– Torna o processo de dragagem sustentável. Alia geração de renda e preservação ambiental – destaca o oceanólogo Lauro Calliari, estudioso dos sedimentos dragados expoidea.com.br/blog/

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