quinta-feira, 3 de junho de 2010

ÁGUA DE CHUVA NÃO FOI PRIVATIZADA NO BRASIL

O aproveitamento da água da chuva para consumo não potável é adotado nos Estados Unidos, Alemanha, Japão e outros países desenvolvidos. Há iniciativas no Paraná, Santa Catarina, São Paulo, nos estados do semi-árido e em outras regiões do país; o estado do Amazonas, que possui 74% da água doce do país, tem um programa estadual de aproveitamento da água da chuva. Vários municípios determinaram nas suas Leis das Cidades o aproveitamento deste recurso. No DF, nem mesmo a polêmica em torno da construção do Lago Corumbá IV levou esta alternativa a ser considerada pelos planejadores públicos e privados, apesar de que a diminuição da demanda da água potável fornecida pelas empresas de saneamento resulta na redução dos seus custos e na preservação dos mananciais para a universalização deste serviço básico.

A coleta e armazenamento de água de chuva é um processo simples e de fácil aplicação: a água é coletada através de calhas nas áreas impermeáveis das construções, normalmente o telhado, sendo filtrada e depositada num reservatório comum, onde é tratada e distribuída para uso não potável. O uso da água potável é retomado quando acaba a água da chuva armazenada. A viabilidade econômica desta tecnologia depende, basicamente, da qualidade e da quantidade da água da chuva. A chuva no DF se dá no período de menor poluição atmosférica, pois as queimadas agropecuárias ocorrem na seca. E cada metro quadrado de superfície do DF recebe anualmente entre 1.500 e 1.750 litros de chuva; assim, o consumo anual de cada habitante corresponde ao volume de chuva que cai sobre 50 metros quadrados.

Para chegar às residências, no sistema atual, a água da chuva deve, primeiro, abastecer os mananciais (infiltrando-se no solo ou escorrendo pelo sistema de águas pluviais), de onde é então coletada, tratada (coagulação, floculação, decantação, filtração, desinfecção e fluoretação) e, finalmente, bombeada para as caixas de água dos usuários. Após todo este rigoroso e dispendioso processo, mais de 60% desta água potável é, então, utilizada para descarga sanitária e lavagem geral. O uso da água de chuva para fins não potáveis deve ser estimulado.

A água que cai do céu ainda não foi privatizada no Brasil e a tendência é de que as pessoas captem esta água para utilização própria. A Bolívia vendeu o sistema de águas de Cochabamba para a empresa norte-americana Bechtel, em 2000; o contrato impedia os moradores de coletarem a chuva, passando todos os recursos hídricos para a posse da empresa. Após violentos protestos populares, a empresa desistiu do empreendimento.
Devemos tomar conta da água da chuva em Brasília, pois ela ainda é nossa. dalembert@cebrac.org.br

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