Desde 1995, o professor Yong Park, da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp, classificou 12 grupos dessa substância natural e constatou que ela possui atividades antimicrobianas, anticancerígenas e anti-HIV, para ficar em apenas três exemplos.
Mais recentemente, sua equipe descobriu classificou um 13º grupo, constituído pela chamada própolis vermelha, que ocorre somente no Nordeste do Brasil.
Testes de laboratório comprovaram que a própolis vermelha é capaz de induzir a apoptose (morte programada) em células leucêmicas humanas.
Altamente promissora, a pesquisa tem agora um longo caminho a percorrer até o desenvolvimento de um medicamento natural para combater a leucemia.
"Dois dos desafios são identificar e isolar a substância que tem o efeito citotóxico. Depois, é preciso fazer os testes pré-clínicos e clínicos. Por enquanto, o que nós fizemos foi constatar a atividade da substância no combate às células leucêmicas e comprovar que a ação da própolis vermelha é maior do que a da própolis verde, que é a mais comum no Brasil", explica o farmacêutico Gilberto Franchi, membro da equipe.
Os cientistas começaram o trabalho coletando a própolis vermelha em colmeias localizadas nas proximidades da costa e de rios nordestinos.
De acordo com o professor Park, foi observado que as abelhas coletavam o exsudato vermelho, uma substância resinosa da superfície da planta Dalbergia ecastophyllum, conhecida popularmente como rabo-de-bugio.
Tanto a própolis quanto o exsudato foram analisados e ambos apresentaram similaridade entre seus componentes químicos.
Em seguida, os extratos etanólicos das própolis vermelha e verde foram testados, em células leucêmicas humanas. "Ambos demonstraram capacidade de eliminar as células leucêmicas, mas a própolis vermelha apresentou um efeito mais eficaz", afirma Gilberto.
O resultado do trabalho provocou grande interesse por parte dos pesquisadores da área. Uma das consequências dessa repercussão foi o contato do site Global Medical Discovery Series, que selecionou a pesquisa para publicação na sua próxima edição, que dedica-se especialmente à divulgação de estudos científicos que podem contribuir para o desenvolvimento de futuros medicamentos.
A própolis é uma resina coletada pelas abelhas melíferas de exsudatos de árvores, principalmente resinas de botões florais jovens. Os insetos misturam cera a essa substância, que depois é utilizada para vedar a colmeia, protegendo assim o enxame do ataque de micro-organismos e outros insetos.
Conforme o professor Park, inicialmente se pensava que a própolis era uma só.
Com a realização de diversas pesquisas ao longo dos últimos 16 anos, o pesquisador pôde constatar, no entanto, que a substância varia de acordo com a origem botânica.
Assim, a resina coletada no Sul do país apresenta compostos e propriedades diferentes da extraída no Nordeste, em razão das características da flora de cada região.
De maneira geral, no entanto, os testes feitos em aproximadamente 600 amostras coletadas pela equipe do professor Park indicam que a própolis apresenta em sua composição química principalmente polifenóis, flavonoides agliconas e seus derivados.
As variações quantitativas desses compostos também estão associadas ao ambiente vegetal. Considerado a maior autoridade mundial em própolis, o pesquisador da Unicamp se diz honrado e feliz por ter o trabalho reconhecido e, sobretudo, por poder passar metade do ano viajando pelo mundo para compartilhar seus conhecimentos com colegas de diversas áreas interessados no tema.
"Temos que continuar pesquisando. O Brasil tem a maior biodiversidade do mundo, e muitas fontes para a produção de medicamentos ainda podem ser descobertas aqui", defende.
Jornal da Unicamp
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