A própolis é colocada dentro de cápsulas microscópicas - aos olhos, tudo não passa de um pó muito fino. [Imagem: LRAC/FEQ/Unicamp]
Que a própolis brasileira é a melhor e a mais rica do mundo é algo que só foi descoberto há pouco tempo.
Mas, para o gosto humano, essa espécie de cera, contendo mais de 400 componentes químicos, tem sabor e cheiro fortes.
Ainda que os cientistas saibam que a própolis pode ajudar a conservar os alimentos, simplesmente adicioná-la in natura não é uma solução aceita por todos.
A equipe da professora Carmen Sílvia Fávaro Trindade, da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da USP, achou uma solução: colocar a própolis dentro de cápsulas microscópicas.
Experimentos realizados no Departamento de Engenharia de Alimentos da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da USP possibilitaram a microencapsulação de própolis.
Os pesquisadores conseguiram processar a própolis até obter um pó que tornou o produto isento de álcool e com gosto e aroma atenuados. A seguir, foi só gerar as microcápsulas - aos olhos, tudo não passa de um pó muito fino.
"A própolis é uma resina produzida pelas abelhas para proteger a colmeia. Seu efeito protetor poderia se estender também aos alimentos, proporcionando ação antimicrobiana, que evita a propagação de microrganismos, e antioxidante, que protege contra a oxidação lipídica", destaca Carmen. "O objetivo da microencapsulação foi justamente facilitar a incorporação aos alimentos", descreve a professora.
Para testar o material, os cientistas inseriram a própolis microencapsulada em amostras de salame. O resultado foi a obtenção de efeitos antimicrobianos e principalmente antioxidantes no produto.
O processo de microencapsulação transforma a própolis em cápsulas de dimensões invisíveis a olho nu, da ordem de 2 a 100 micrômetros (µm).
"Devido a dimensões tão reduzidas, obtemos quantidades de pó com as microcápsulas. Este pó é então introduzido no alimento. A microencapsulação reduziu o cheiro forte da resina e amenizou seu gosto amargo. Além disso, o produto tornou-se solúvel em água", explica Carmen.
A professora descreve que foram utilizados dois processos de microencapsulação da própolis: a atomização e a coacervação complexa. As duas técnicas já eram conhecidas, mas a segunda nunca tinha sido utilizada para encapsulação da própolis.
No processo de atomização, a parede da microcápsula que recobre a própolis é composta por um polímero de amido modificado - a popular goma arábica.
O trabalho de Felipe Correa, membro da equipe, foi criar as microcápsulas a partir de uma dispersão contendo o extrato etanólico de própolis e a goma arábica.
Em uma técnica chamada nebulização, ele colocou tudo em uma câmara com entrada de ar a alta temperatura, que promovia a evaporação instantânea da água e do álcool e a formação de microcápsulas que eram recolhidas na forma de um pó bem fino.
Já Mirian Nori cuidou da outra técnica, que atende pelo estranho nome de coacervação complexa, onde o material da parede das microcápsulas é formado pelo complexo formado por proteína isolada de soja e pectina.
"A própolis é rica em compostos de cargas positivas", ressalta Carmen. Uma solução de proteína isolada de soja é colocada em meio alcalino, condição onde predominam cargas negativas na molécula e, então, misturada à própolis para se proporcionar ligação entre as cargas opostas, formando-se a primeira parede da cápsula.
Em seguida adiciona-se a solução de pectina, que é um polissacarídeo com cargas negativas e se reduz o valor de pH do meio, para se promover a alteração das cargas ainda disponíveis da proteína para negativa.
Nessa condição, a pectina e a proteína isolada de soja ligam-se formando a segunda parede da microcápsula.
Diário da Saúde
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