Em parceria com a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e a Universidade Federal de Uberlândia (UFU), um grupo de pesquisadores do Departamento de Biologia Celular da UnB analisou o comportamento e identificou proteínas cerebrais de operárias das abelhas Apis mellifera e Melipona quadrifasciata.
"Um dos desafios da ciência moderna é compreender como o ser humano aprende e memoriza. Assim, por meio do estudo de estruturas tridimensionais das proteínas presentes no cérebro dessas abelhas e suas relações com funções bioquímicas, talvez possamos um dia colaborar no entendimento do cérebro humano", explicou o coordenador dos trabalhos, o bioquímico Marcelo Valle de Sousa, à Agência FAPESP.
De acordo com Sousa, as abelhas são insetos sociais: vivem organizadas em colônias nas quais os indivíduos se dividem em castas e contam com papéis bem definidos. Os pesquisadores compararam o cérebro de nutridoras de Apis mellifera, que são operáriasresponsáveis por alimentar as larvas e realizar a limpeza da colméia, com o cérebro de abelhas campeiras, que se deslocam grandes distâncias para coletar alimentos como o pólen e o néctar.
Os pesquisadores extraíram proteínas dos cérebros das abelhas e, com o auxílio de uma técnica chamada eletroforese bidimensional, separaram as proteínas de acordo com sua carga elétrica e massa molecular para, em seguida, identificá-las por meio de outra técnica denominada espectrometria de massa.
"Já conseguimos identificar cerca de 1,2 mil proteínas no cérebro das nutridoras e mais 1,2 mil no das campeiras. Desse total, apenas 50 proteínas são diferentes. Com isso, o próximo passo do estudo será analisar detalhadamente as estruturas tridimensionais dessas proteínas e suas interações com outras proteínas cerebrais para tentar propor funções bioquímicas e identificar semelhanças com proteínas do cérebro humano", explica Sousa.
A identificação das proteínas foi facilitada pela disponibilidade do genoma seqüenciado da abelha Apis mellifera, inseto que é utilizado como modelo para estudos de memória, aprendizagem, comunicação e sociabilidade. O seqüenciamento completo do genoma da abelha foi concluído no final do ano passado por um consórcio de cientistas de diferentes países.
O trabalho de determinação das estruturas tridimensionais das proteínas da Apis mellifera está sendo realizado em colaboração com o Laboratório Nacional de Luz Síncrotron, em Campinas, no interior paulista. A primeira a ser analisada é a MRJP1, por ser uma proteína encontrada em maior concentração nos cérebros das abelhas.
Diario da Saude
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