sábado, 30 de março de 2013

EXISTÊNCIA DE ILHAS DE CALOR URBANAS EM MANAUS/AM

As alterações sofridas tanto na ocupação populacional quanto no planejamento urbano da cidade de Manaus representaram também mudanças na estrutura atmosférica da capital. Um desses efeitos, em especial, chamou a atenção de dois pesquisadores da Universidade do Estado do Amazonas (UEA). Doutores em Meteorologia pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), os professores Francis Wagner Correa e Rodrigo Souza realizaram um estudo sobre a Ilha de Calor Urbana (ICU), fenômeno decorrente de oscilações climáticas.

Um dos autores do relatório, o professor Francis Wagner recebeu o G1 na Escola Superior de Tecnologia da UEA (EST-UEA), sede do laboratório de modelagem atmosférica onde as pesquisas acerca das Ilhas de Calor são realizadas. De acordo com Wagner, o projeto nasceu a partir de uma demanda da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semmas) para avaliar este fenômeno. No total, foram dois anos de duração. “A ilha de calor representa a diferença de temperatura entre a área rural e a urbana. A nossa meta é fornecer subsídios para a formação do plano-diretor de arborização e zoneamento ecológico de Manaus e medidas para controlar o calor da cidade”, apontou.

No estudo, os dois pesquisadores se dividiram e cada um trabalhou com uma das vertentes do projeto – enquanto Wagner cuidou da modelagem numérica, Rodrigo Souza trabalhou com a parte observacional. O que são essas duas abordagens? O especialista explica. “O professor Rodrigo utilizou informações de temperatura da superfície estimadas por meio de satélite ambiental, usando resolução de 1 km e 5 km. Esse método também contou com medidas de estações meteorológicas dentro e fora da área urbana”, destacou. “Já eu aproveitei um modelo numérico denominado Brams (sigla que significa Brazilian Regional Atmospheric Model System) que consegue simular o clima nas escalas local, regional e global. Para isso, colocamos no modelo alguns cenários de vegetação. Assim é possível concluir os impactos no clima”, acrescentou Wagner.

Segundo o pesquisador, o modelo numérico equivale a um conjunto de equações matemáticas que representam as leis físicas da atmosfera ou o clima de uma região. Por ter um pacote numérico pesado, a simulação só pode ser feita no laboratório de modelagem da UEA, por meio do Sistema de Processamento de Alto Desempenho da Universidade (também conhecido como Cluster). Atualmente, o espaço possui 120 processadores fazendo esse trabalho.

Zona Centro-Sul tem mais incidência de ICU – Os professores tiveram acesso a toda a área metropolitana de Manaus, por meio de satélite. Com os dados do Sistema de Processamento e as imagens da cidade, foi comprovado que em Manaus existe o fenômeno de Ilha de Calor Urbana (ICU), sobretudo na estação seca (meses de julho, agosto e setembro), afirmou Francis Wagner.

A pesquisa, que teve como base o período entre 2002 e 2012, revelou que os picos de temperatura são mais notáveis na Zona Centro-Sul e Sul de Manaus, em bairros como Aleixo e Petrópolis. Outras áreas da cidade com proeminência das Ilhas de Calor são a Cidade Nova, Tancredo Neves, Zumbi e Japiim.

Por meio de uma avaliação da média dos três primeiros anos (2002, 2003 e 2004) em relação aos três últimos (2010, 2011 e 2012), Wagner e Souza comprovaram que o aquecimento nesses locais deve aumentar ainda mais no futuro. Um dos principais fatores para o aparecimento desse fenômeno, como apurou o pesquisador, é o excesso de calor armazenado na área urbana em relação à zona rural. “Esse aumento vem das emissões dos veículos, da poluição das indústrias e da atmosfera como um todo. As ilhas também surgem a partir da diminuição da cobertura vegetal, que leva a uma redução na ‘evapotranspiração’. Isso faz com que acumule mais energia. Outro fator importante é a natureza de materiais impermeáveis, como concreto, asfalto e pavimentos, na área urbana”, enumerou.

Além das áreas com mais intensidade de Ilhas de Calor, também foi constatado o horário com temperaturas mais altas. “São dois picos. O primeiro, das 7h, acontece porque todos os carros saem de casa e liberam uma grande quantidade de poluentes na atmosfera. O segundo é às 20h e é explicado pelo aquecimento do asfalto após o pôr do sol. Esse calor fica preso na atmosfera e se dissipa lentamente durante a madrugada. Em termos médios, pode-se dizer que a ICU é mais intensa à noite”, avaliou.

Nova etapa ainda este semestre – De acordo com Wagner, o projeto terá uma nova etapa, com início este ano e conclusão em 2014. Na etapa observacional, o planejamento é de instalar de monitorar uma rede automatizada com pelo menos 20 estações meteorológicas na área urbana de Manaus. O modelo numérico permitirá a visualização de cenários futuros, com o aumento da quantidade de CO2. “Estamos em fase de formatação do texto. Já temos sinal verde para dar início”, encerrou.

Para o diretor de arborização da Semmas, Heitor Liberato, o diagnóstico dos pesquisadores da UEA está diretamente ligado à perda da massa arbórea nesses espaços com Ilhas de Calor. “É um levantamento fundamental para a gestão ambiental do município, já que temos como prioridade a implantação de projetos de arborização urbana. Queremos, inclusive, apresentar esse relatório para as demais secretarias da prefeitura”, disse.

G1

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