quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

TELHADOS DE PARIS VIRAM FABRICAS DE MEL

PARIS - As abelhas sempre preferiram o campo à cidade. Há alguns anos, porém, ocorre uma revolução cultural na espécie. As abelhas do século 21 deixaram as florestas para se instalar nos tetos de Paris. Aplicaram os conselhos de um humorista francês, Alphonse Allais, do início do século passado, para melhorar as condições de vida: "construir cidades no campo".

As abelhas seguiram Allais, mas ao contrário. Instalaram o campo na cidade.

Essa revolução foi favorecida pelos inseticidas. Especialmente dois tipos, que não matam as abelhas. Ou melhor, se as matam, é com requintes de crueldade. Eles desorganizam os neurônios das abelhas e confundem seu senso de orientação - mais ou menos como se retirássemos as bússolas dos navios.

Resultado: a abelha deixa sua colméia, tranqüila, confiante. Vai fazer suas coisas, mas em seguida, não consegue encontrar o caminho de volta. E morre lentamente.

Quem vive na cidade não conhece esses problemas. E assim as colméias se multiplicaram em Paris. Podem ser encontradas nos lugares mais inesperados, dos telhados da prefeitura aos subúrbios. Mais curioso: um funcionário aposentado do Opéra, em pleno coração da capital, conseguiu o direito de colocar suas colméias no teto do teatro. E foi um sucesso. Suas bravas abelhas trabalharam como loucas, o ano todo.

Sem agressão - Não só todas as abelhas de Paris são mais trabalhadoras do que as dos campos - produzem cinco vezes mais mel do que as campestres -, mas o mel da capital francesa é mais gostoso e puro do que o das florestas, da Bretanha e dos Alpes.

Como explicar? Há muito tempo se sabe: o campo é mais poluído que a cidade.  Nitratos, inseticidas, fertilizantes e vários tipos de veneno infectam os campos. É verdade que o ar de Paris é poluído pelos resíduos de essências das indústrias, mas as abelhas urbanas não vivem nas ruas. Elas prosperam nos tetos, em grandes alturas, aonde não chega o dióxido de carbono.

Da mesma forma, sua dieta é mais saudável. Em vez de borboletear sobre flores empesteadas, percorrem os jardins públicos, onde os jardineiros não utilizam inseticidas.

A produção de mel das cidades é tão abundante que já está sendo vendida.

Pode-se comprar mel Béton do Subúrbio, mel Opéra Garnier ou mel Opéra da Bastilha. Será possível transpor o exemplo das abelhas a outros produtos do campo?

Gilles Lapouge Correspondente
OESP, p. C8

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