Criança surda que estuda por meio da Língua Brasileira de Sinais (Libras) – em meio a professores e colegas também sinalizadores – aprende a ler e a escrever mais cedo e melhor do que aquelas inseridas em salas de aula regulares. A conclusão faz parte de uma pesquisa feita pelo professor Fernando Capovilla, da Universidade de São Paulo (USP).
“Colocar uma criança de 5 anos dentro de uma sala de ouvintes é como botá-la numa escola chinesa”, afirma o pesquisador, que durante dez anos avaliou 9,2 mil alunos surdos e com dificuldade auditiva com idades entre 6 e 25 anos e escolaridade do início do fundamental ao fim do superior.
Os resultados do levantamento estão em concordância com o que reivindica a Federação Nacional de Integração e Educação dos Surdos (Feneis). A organização é contra a política de inclusão do Ministério da Educação (MEC), que prevê que esses alunos frequentem salas de aula regulares, com a presença de intérprete e, no contraturno, recebam um atendimento especializado.
“Estamos lutando para que a educação de surdos seja considerada no mesmo patamar da indígena. Que não sejam enquadrados na categoria da educação especial, e sim na bilíngue”, afirma a diretora de Políticas Educacionais da Feneis, Patrícia Rezende. “Libras como a primeira língua e português como segunda.”
A polêmica da inclusão de surdos em escolas regulares resvala em aspectos sutis. Um deles é a defesa de que o surdo não é deficiente, mas alguém que tem uma língua diferente. Outro ponto a ser considerado é a opção dos pais. Cabe a eles a decisão sobre a educação da criança. Como boa parte dos pais é ouvinte, há quem prefira que o filho seja educado no oralismo.
“Escolher é direito dos pais. O importante é que os educadores saibam orientá-los sobre os caminhos possíveis e as consequências da decisão”, diz a pedagoga Teresa Cristina Aliperti. “Uma criança que tenha condições de fazer um acompanhamento com fonoaudiólogo e ter aulas particulares de reforço é capaz de aprender. Mas colocar um surdo no meio de 35 alunos ouvintes, sem uma infraestrutura adequada, não vai dar certo.”
Pai de Ana Beatriz, de 12 anos, Rogério Santos conta que ao saber da surdez da filha, aos seis meses de vida, queria fazê-la ouvir. Foi na Divisão de Educação e Reabilitação dos Distúrbios da Comunicação (Derdic) da PUC-SP que ele e a mulher aprenderam a linguagem de sinais para se comunicar com ela. “Descobrimos que era a gente que devia falar como ela, não ela como a gente.”
Ocimara Balmat
blogs.estadao.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário