Mesmo sendo necessário ainda ser fabricado em grande escala, o filtro pode ter um importante papel no combate a doenças causadas pelo consumo de água contaminada. Segundo a Organização das Nações Unidas, mais de um bilhão de pessoas no mundo não têm acesso a água potável, e mais de dois bilhões, a maioria no Sul em desenvolvimento, morrem por ano em razão de doenças associadas às más condições sanitárias.
O filtro é composto por três partes integrais, o que o torna único, segundo Eugene Cloete, decano da Universidade de Stellenbosch e criador do filtro. Como outros dispositivos purificadores, contém uma rede de nanofibras e carvão ativado que seguram as bactérias da água, disse Eugene, um dos principais pesquisadores da África do Sul e ex-vice-presidente da Associação Internacional da Água.
O que faz deste um filtro singular é a inclusão de um produto químico biocida que mata qualquer elemento patogênico, explicou Eugene à IPS. “As bactérias e os vírus não podem avançar, e então os matamos, assim não ficam dentro do filtro. Não há nada como isto no mundo”, ressaltou.
Na África do Sul, os esforços para levar água potável às comunidades rurais ou empobrecidas foram afetados pela falta de engenheiros nas municipalidades ou de infraestrutura adequada, segundo Sharon Pollard, administrador de programas na Associação para a Água e o Desenvolvimento Rural.
“Dos 351 municípios, apenas seis têm engenheiros entre seu pessoal”, disse Sharon. “Além disso, a infraestrutura nas antigas homelands (territórios que funcionavam como reservas para habitantes não brancos durante o apartheid) é muito pior do que nos subúrbios de Joanesburgo, por exemplo”, lamentou.
De acordo com Sharon, sem saneamento adequado as pessoas dependem de vendedores informais que aumentam o preço da água, ou de algumas poucas tubulações públicas. Uma das vantagens do novo filtro é que é portátil e pode ser usado por pessoas que viajam a áreas isoladas sem água potável. “Simplesmente é impossível construir infraestrutura de tratamento em cada riacho contaminado. Então, devemos oferecer uma solução para as pessoas”, disse Eugene à revista Science.
O cientista disse à IPS que nos testes o filtro removeu a maioria das bactérias da água do rio e foi capaz de deter elementos patogênicos habituais como a salmonela. “Fizemos testes com uma longa lista de bactérias. Não passam pelo filtro”, afirmou.
O dispositivo chamou a atenção de estabelecimentos que vendem no varejo, organizações não governamentais e filantrópicas. Ainda não há uma decisão sobre como distribuí-lo. O desafio é fazer com que chegue aos que mais necessitam, disse Thomas Levine, economista da Corporação Tecnológica Alemã, um grupo de especialistas em desenvolvimento.
Embora as ONGs possam levar ajuda mais facilmente às comunidades, os governos têm suas vantagens, segundo Thomas. “Os ministérios costumam ser lentos, mas têm a capacidade de conseguir distribuir em grande escala, o que é difícil de ser feito pelas ONGs”, afirmou.
Esta nova tecnologia poderia ser melhor usada em áreas onde não há infraestrutura de tratamento, disse Thomas. “No longo prazo, a questão será como estabilizar o fornecimento de água. Enquanto isso, existem as tecnologias como esta”, argumentou.
Alguns lugares, como a cidade de Juba, no sul do Sudão, dependem de doadores internacionais para depurar a água, explicou Stephen Maxwell Kwame Donkor, presidente do escritório para a África da ONU-Água. “Em Juba, por exemplo, os métodos de tratamento recebem altos subsídios, para salvar vidas prevenindo o cólera”, disse Stephen. Os filtros são mais indicados para situações de emergência, “antes que seja criada a infraestrutura permanente como poços e unidades de tratamento”, acrescentou.
No entanto, em situações como as atuais inundações no Paquistão, podem sofrer algumas dificuldades. Segundo John Kings, diretor-gerente da organização Água e Saneamento Tsogang, podem acontecer, por exemplo, obstruções e causar alguns problemas de saúde, ou, ainda ficarem inutilizados pelo mau uso, explicou.
Em termos de custo, o filtro ao estilo “saquinho de chá” é mais barato do que outros dispositivos, que podem custar a partir de US$ 20, disse Eugene. Os materiais básicos para fabricá-lo custam entre US$ 0,03 e US$ 0,20 por litro. Eugene espera começar a produção em grande escala até o final deste ano. Envolverde/IPS
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