Pesquisadores mapearam o subterrâneo das florestas
Debaixo de cada
floresta há uma teia subterrânea complexa de raízes, fungos e bactérias que
ajudam a conectar árvores e plantas umas às outras.
Essa rede subterrânea
tem quase 500 milhões de anos e ficou conhecida como "wood wide web"
("rede global florestal" em tradução livre) analogia à world wide web
(www), a rede digital que permite usufruir do conteúdo transferido pela
internet).
Agora, um estudo
internacional publicado na renomada revista Nature produziu o primeiro mapa
global da rede de fungos micorrizas (como são chamada as associações entre
fungos e raízes) que dominam esse mundo "secreto".
Pesquisadores do
Laboratório Crowther, da Suíça, e da Universidade de Stanford, nos EUA, usaram
uma base de dados da Global Forest Initiative, que cobriu 1,2 milhão de árvores
de 28 mil espécies em mais de 70 países.
Por meio de milhões de
observações diretas de árvores e suas associações simbióticas no solo, os
pesquisadores puderam construir modelos para visualizar essas redes de fungos
pela primeira vez.
Thomas Crowther, um dos
autores do estudo, disse à BBC que é a primeira vez que pesquisadores são
capazes de entender o mundo debaixo dos nossos pés, mas numa escala global.
A pesquisa revela quão
importante são as redes de micorrizas para limitar as mudanças climáticas – e
como elas são vulneráveis aos efeitos dela.
"Assim como
imagens de ressonância magnética do cérebro nos ajuda a entender como ele
funciona, esse mapa global dos fungos subterrâneos nos ajuda a entender o
funcionamento dos ecossistemas globais", disse Crowther.
"O que descobrimos
é que certos tipos de micro-organismos vivem em certas partes do mundo.
Entendemos que podemos descobrir como restaurar diferentes tipos de ecossistemas
e também como o clima está mudando", completou o professor.
A perda de grandes
partes da rede de micorrizas pode aumentar "o ciclo de retroalimentação do
aquecimento das temperaturas e das emissões de carbono".
Os fungos micorrizas
são aqueles que formam uma relação simbiótica com as plantas.
Se não houver redução
nas emissões de carbono até 2100, pode haver uma redução de 10% dos fungos
ectomicorrizas - e das árvores que dependem deles
Existem dois grupos
principais de fungos: micorrizas arbusculares, que penetram as raízes dos
hospedeiros, e ectomicorrizas que circundam as raízes das árvores sem
penetrá-los.
Ectomicorrizas estão
presentes, principalmente, em sistemas de clima temperado e ajudam a reter mais
carbono da atmosfera. Eles são mais vulneráveis às mudanças climáticas.
Micorrizas
arbusculares, por sua vez, são mais dominantes nos trópicos e promovem o rápido
ciclo de carbono.
De acordo com a
pesquisa, 60% das árvores estão conectadas a ectomicorrizas. Quando a
temperatura aumenta, esses fungos, e as espécies de árvores associadas a eles,
são substituídos por micorrizas arbusculares.
"Os tipos de
fungos que sustentam grandes reservas de carbono no solo estão sendo perdidos e
substituídos pelos que emitem carbono para a atmosfera", afirma o
professor.
Segundo cientistas,
isso poderia potencialmente acelerar mudanças climáticas.
Se não houver redução
nas emissões de carbono até 2100, pode haver uma redução de 10% dos fungos
ectomicorrizas – e das árvores que dependem deles.
Os resultados dessa
descoberta podem embasar esforços de restauração da flora, como a campanha para
plantio de um trilhão de árvores da Organização das Nações Unidas (ONU),
informando quais tipos de espécies arbóreas, dependendo de sua rede micorriza
associada, deveriam ser plantadas em que áreas específicas do mundo.
Martin Bidartondo,
pesquisador associado do Kew Gardens, o Jardim Botânico de Londres, salienta a
importância do estudo. "Agora, pela primeira vez, nós temos essa base de
dados em larga escala que nos diz o que está acontecendo em todo o
planeta".
"Através de nossas
atividades diárias, estamos contando com que o carbono continue no solo e sendo
acumulado ali. Se criamos condições por meio da mudança do tipo de fungos que
estão interagindo com as plantas no solo, esse solo pode parar de acumular
carbono e começar a liberá-lo. Assim, a taxa de emissão vai acelerar
mais", diz Bidartondo.
Claire Marshall
BBC News
20 maio 2019
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