Aprendemos na aula de
biologia que a cadeia alimentar se forma de baixo para cima. Existem as
plantas, que são fornecedoras de nutrientes. A partir delas vem insetos, aves,
pequenos roedores, herbívoros maiores, até chegarem os predadores lá em cima.
Até bem recentemente, todas as tentativas de reequilibrar ecossistemas seguiam
essa premissa, e partiam da base da pirâmide.
Chegada
dos lobos a Yellowstone em 1995 – foto: NPS
Os lobos tinham sido
erradicados no Yellowstone National Park, no noroeste dos Estados Unidos, há 70
anos. Em 1995, seguindo o Endangered Species Act, o US Fish and Wildlife
Servicere introduziu uma alcateia de 14 lobos vindos do Canadá. Nos anos
seguintes, mais algumas dezenas foram trazidas de outras partes da região. 20
anos depois, a transformação do parque é inacreditável: o número de animais – e
de espécies – aumentou muito, a floresta teve uma recuperação expressiva, e até
os rios mudaram. A chegada dos lobos causou uma mudança em cascata nos hábitos
dos animais dos outros níveis tróficos. Ou seja: a cascata trófica nada mais é
que o efeito indireto que um nível trófico exerce nos demais, começando pelo
topo da cadeia alimentar.
Sem lobos, os alces e
veados não tinham predadores, então podiam circular livremente e comer felizes
e contentes toda a vegetação dos vales do parque. Quando chegaram os lobos,
eles foram obrigados a seguir um padrão de comportamento mais seguro, se
refugiando nas terras altas. Isso fez a vegetação crescer mais (em 10 anos,
algumas árvores quintuplicaram de tamanho). Árvores mais altas significam mais
aves, insetos, e mais castores. Esses, veja só, com suas barreiras criaram
represas que atraíram lontras, patos, peixes e anfíbios. Os lobos caçam coiotes,
o que fez o número de coelhos e ratos crescer, e esses atraíram falcões,
doninhas e raposas. Texugos e corvos chegaram para se alimentar das sobras das
caças dos lobos. Ursos também apareceram, em parte pela caça farta, mas também
pelo aumento das frutas nas árvores e arbustos. O crescimento da mata afetou as
margens dos rios, pois as raízes reduzem a erosão. Os rios tiveram seus cursos
estabilizados, passaram a formar piscinas naturais, e os canais estreitaram. Os
lobos mudaram não só o ecossistema, mas a geografia do parque.
Yellowstone
Park em 2010 – foto: Acroterion
O que aconteceu em
Yellowstone é tão surpreendente, que os cientistas não são capazes de explicar
o verdadeiro alcance da cascata trófica.
A reintrodução dos lobos em um ambiente, que naturalmente precisava
deles, causou um impacto grande.
20 anos é bem pouco
tempo para se avaliar a real recuperação do ecossistema que vem sendo destruído
pelo homem a séculos.
Maiza Raquel Martins Clementi enviou esta Mensagem
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