Casos foram detectados
no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Mato Grosso do Sul. Análises
laboratoriais identificaram agrotóxicos em cerca de 80% dos enxames mortos no
RS
Albert Einstein previu
no século passado que, se as abelhas desaparecessem da superfície da Terra, o
homem teria apenas mais quatro anos de vida. A morte em grande escala desse
animal, interpretada como apocalíptica na época, é hoje um alerta real. Desde o
começo do século, casos de morte e sumiço de abelhas são registrados nos
Estados Unidos e na Europa. No Brasil, estudiosos destacam episódios alarmantes
a partir de 2005.
Agora, o fenômeno
parece chegar ao ápice. Em três meses (de dezembro de 2018 a fevereiro de
2019), mais de 500 milhões de abelhas foram encontradas mortas por apicultores
apenas em quatro estados brasileiros, segundo levantamento da Agência Pública e
Repórter Brasil. Foram 400 milhões no Rio Grande do Sul, 7 milhões em São
Paulo, 50 milhões em Santa Catarina e 45 milhões em Mato Grosso do Sul, segundo
estimativas de Associações de apicultura, secretarias de Agricultura e
pesquisas realizadas por universidades.
O principal causador,
afirmam especialistas e pesquisas laboratoriais analisadas pela reportagem, é o
contato com agrotóxicos à base de neonicotinoides e de Fipronil, produto
proibido na Europa há mais de uma década. Esses ingredientes ativos são
inseticidas, fatais para insetos, como é o caso da abelha, e quando aplicados
por pulverização aérea se espalham pelo ambiente.
As abelhas são as
principais polinizadores da maioria dos ecossistemas do planeta. Voando de flor
em flor, elas polinizam e promovem a reprodução de diversas espécies de
plantas. No Brasil, das 141 espécies de plantas cultivadas para alimentação
humana e produção animal, cerca de 60% dependem em certo grau da polinização
deste inseto. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a
Agricultura (FAO), 75% dos cultivos destinados à alimentação humana no mundo
dependem das abelhas.
Em Cruz Alta, município
de 60 mil habitantes no Rio Grande do Sul, mais de 20% de todas as colmeias
foram perdidas apenas entre o Natal de 2018 e o começo de fevereiro. Cerca de
100 milhões de abelhas apareceram mortas, segundo a Apicultores de Cruz Alta
(Apicruz). “Apareceram uns venenos muito bravos. Eles colocam de avião de manhã
e à tarde as abelhas já começam a aparecer mortas”, relata o apicultor Salvador
Gonçalves, presidente da Apicruz.
No Brasil, há seis
espécies de abelhas nativas — Melipona scutellaris, Melipona quadrifasciata,
Melipona fasciculata, Melipona rufiventris, Nannotrigona testaceicornis,
Tetragonisca angustula – e mais de 3 mil estrangeiras. A maioria delas não tem
ferrão, ou tem o órgão atrofiado.
Cada espécie é mais
propícia para polinização de determinadas culturas. Por exemplo, a Mamangaba,
conhecida popularmente como abelhão, é a principal responsável pela polinização
de maracujá. “O que aconteceria se esse inseto fosse extinto? Ou deixaríamos de
consumir essas frutas, ou elas ficariam caríssimas, porque o trabalho de
polinização para produzi-la teria que ser feito manualmente pelo ser humano”,
explica Carmem Pires, pesquisadora da Embrapa e doutora em Ecologia de Insetos.
A estudiosa conta que
até em lavouras que não são dependentes da ação direta dos polinizadores, a
presença de abelhas aumenta a safra. “Na de soja, por exemplo, é identificado
um aumento em 18% da produção. É importante destacar também o efeito em cadeia.
As plantas precisam das abelhas para formar suas sementes e frutos, que são
alimento de diversas aves, que por sua vez são a dieta alimentar de outros
animais. A morte de abelhas afeta toda a cadeia alimentar”.
Agrotóxicos inimigos
das abelhas
Os principais inimigos
das abelhas são os agrotóxicos neonicotinoides, uma classe de inseticidas
derivados da nicotina, como por exemplo o Clotianidina, Imidacloprid e o
Tiametoxam. A diferença para outros venenos é que ele tem a capacidade de se
espalhar por todas as partes da planta. Por isso, costuma ser colocado na
semente, e tudo acaba com vestígios: flores, ramos, raízes e até no néctar e
pólen. Eles são usados em diversas culturas como de algodão, milho, soja, arroz
e batata.
Além dos
neonicotinoides, há casos de mortandade relacionados também ao uso de
agrotóxicos à base de Fipronil, inseticida que age nas células nervosas dos
insetos e, além de utilizado contra pragas em culturas como maçã, soja e
girassol, é usado até mesmo em coleiras antipulgas de animais domésticos.
Muitas vezes esse veneno é aplicado em pulverização aérea, o que o expõe
diretamente às abelhas. Segundo pesquisa produzida pela Embrapa em 2004, 19% do
agrotóxico manejado através do método de pulverização aérea é dispersado para
áreas fora da região de aplicação.
Dentro da colmeia as
abelhas vivem em sociedades organizadas, com papéis claros. Elas se dividem em
castas — rainha, operárias e zangões. A primeira delas é a única fêmea fértil,
é quem coloca os ovos —cerca de 2,5 mil por dia. Os zangões são os machos e têm
como papel fecundar a rainha. Já as operárias são as fêmeas responsáveis por
praticamente tudo dentro da colmeia: limpeza, coleta de néctar e pólen,
alimentação das larvas (abelhas não adultas), elaboração do mel e defesa do
lar. A depender do tamanho da caixa e das condições climáticas, uma única colmeia
pode abrigar até 100 mil abelhas.
A morte dos
polinizadores por contato com os agrotóxicos pode ocorrer de vários modos. O
mais comum é quando a operária sai para a polinização. Muitas acabam morrendo
na hora, outras ficam desorientadas e infectadas. A partir daquele momento elas
tentam voltar a colmeia, mas muitas não resistem ao caminho. As que conseguem
voltar acabam infectando toda colmeia — o enxame acaba morto em pouco mais de
um dia.
Casos cada vez mais
agudos
Não existem números
oficiais de mortes de abelhas no país, segundo o Ibama (Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). Porém, associações de
apicultores e órgãos ligados à secretarias estaduais de Agricultura fazem
levantamentos próprios.
Entre dezembro do ano
passado e fevereiro de 2019, pelo menos 500 milhões de abelhas foram
encontradas mortas apenas nos estados de Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São
Paulo e Mato Grosso do Sul, segundo apurou a reportagem. Mas o número pode ser
muito maior, já que é impossível contabilizar as mortes de abelhas silvestres –
aquelas que não são criadas por apicultores.
A maioria dos casos
recentes ocorreu no Rio Grande do Sul, onde, segundo a Câmara Setorial de
Apicultura da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural do
estado, foram 400 milhões de baixas desde dezembro do ano passado. O estado é o
maior produtor apícola do país, com mais de 400 mil colmeias, de acordo com a
Emater. A produção de mel supera 6 mil toneladas por safra, cerca de 15% do
total brasileiro.
A Secretaria recebeu
comunicados de óbitos em 10 municípios: Jaguari, Sant’Ana do Livramento,
Alegrete, Santiago, Livramento, Bagé, Mata, Cruz Alta, Boa Vista do Cadeado,
Santa Margarida. Isso significou mais de 1% das criações de abelhas dizimadas.
“O estado tem cerca de 463 mil colmeias. Dessas, cerca de 5 mil foram
completamente perdidas. O prejuízo está em torno de 150 toneladas de mel”,
conta Aldo Machado dos Santos, coordenador da Câmara Setorial de Apicultura
gaúcha.
Por meio de notícias da
imprensa, investigações do Ministério Público e estudos científicos, a
reportagem identificou casos de mortandade de abelhas em pelo menos dez estados
brasileiros desde 2005: Ceará, Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso, Mato
Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do
Sul.
O engenheiro agrônomo e
professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Aroni Sattler é
especialista em sanidade das abelhas e trabalha na área desde 1973. Segundo
ele, casos de mortes de enxames se tornaram mais recorrentes na última década.
“Devido ao meu trabalho, sempre recebi amostras de abelhas para análises, e vim
percebendo que cada vez mais não havia sinais de doenças nos insetos que
explicassem mortandades tão agudas”, explica.
No ano passado, ele foi
procurado pelo Bioensaios, um laboratório privado, para orientar um trabalho
sobre coleta de amostras em casos de mortandade. Foram analisados 30 casos de
grandes baixas em enxames no Rio Grande do Sul. Os resultados mostram que cerca
de 80% ingeriram ou tiveram contato com Fipronil antes de sucumbir. “Pelos
sinais clínicos e pelo histórico apresentado pelos apicultores, percebemos que
os agricultores da região misturavam o Fipronil no tanque junto com dessecantes
desde o preparo do solo, passando pela fase vegetativa do cultivo e depois na
hora da colheita. Se trata de um inseticida, e as abelhas são um tipo de
inseto, por isso o ingrediente é bastante tóxico para elas”, detalha.
O especialista aponta
que, mesmo naquelas que não apresentaram vestígio dos agrotóxicos, pode ter
ocorrido contato. “Nos outros 20% é notado que a coleta das amostras não foi
feita adequadamente, ou foi feita em um período muito longo após a mortandade,
o que dificulta a identificação dos tóxicos”.
Quem é o culpado?
Desde que começou a
fazer análises de abelhas mortas, o engenheiro agrônomo Aroni Sattler emitiu 30
laudos para apicultores do Rio Grande do Sul que comprovam o contato dos
insetos com pesticidas. A partir daí eles podem levar os casos à Justiça e
buscar ressarcimento. O especialista alerta para um risco ainda maior, o das
abelhas nativas silvestres, pois não há como enumerar quantas estão morrendo e
nem denunciar quem aplicou o veneno. “O impacto do uso desses agrotóxicos
atinge um raio de 3 a 5 quilômetros das lavouras. Tudo no entorno desaparece”,
afirma.
Aroni Sattler destaca
também que muitas vezes os desastres ocorrem por falta de informação. “Há casos
de mortandade que acontecem porque os agricultores utilizam o agrotóxico de
modo errado, ou até mesmo, por falta de conhecimento, eles acham que a abelha
prejudica a lavoura e passam veneno”.
O coordenador da Câmara
Setorial de Apicultura do Rio Grande do Sul, Aldo Machado, afirma que há
necessidade de um trabalho de conscientização: “Precisamos de agrônomos nos
campos, acompanhando essas aplicações, vendo se está sendo feito conforme a
bula”.
Sobre realizar as
denúncias, ele explica que o canal indicado são as defensorias agrícolas
ligadas às secretarias estaduais ou municipais. Além disso, é aconselhável
informar a Polícia Militar Ambiental e fazer um boletim de ocorrência na
Polícia Civil. “O apicultor tem que vencer o medo e denunciar. Há dois anos,
após um grande surto de casos no Rio Grande do Sul, fizemos um levantamento e
só existiam dois registros de denúncia. Sabíamos que estava ocorrendo mais, mas
sem denúncia não se torna oficial para o Governo”. Só em Cruz Alta, segundo a
Associação dos Apicultores de Cruz Alta (Apicruz), 810 colmeias foram
totalmente perdidas entre 2015 e 2016 – cerca de 50 milhões de abelhas. Porém,
no último trimestre a Apicruz estima que o número de abelhas mortas ultrapasse
100 milhões no município.
Mas, mesmo em casos
onde há um laudo que prove a relação das mortes com agrotóxicos, é difícil
conseguir identificar um culpado, afirma Aldo Machado. “Em Cruz Alta, por
exemplo, há diversos produtores de soja. Existe a dificuldade de provar quem
colocou esse princípio ativo na lavoura. Em muitos casos, diversos produtores
utilizam o agrotóxico, aí fica difícil encontrar um culpado para cada caso
específico”, pontua.
De acordo com a Lei
Federal 7.802/89, a Lei dos Agrotóxicos, quem deve fazer a fiscalização do uso
são os órgãos estaduais. Portanto, todo problema decorrente do uso desses
químicos deve ser informado às secretarias de Meio ambiente ou de Agricultura
dos estados.
Há base legal para
considerar a morte de abelha como crime ambiental. De acordo com o artigo 56 da
Lei de Crimes Ambientais é crime “Produzir, processar, embalar, importar,
exportar, comercializar, fornecer, transportar, armazenar, guardar, ter em
depósito ou usar produto ou substância tóxica, perigosa ou nociva à saúde
humana ou ao meio ambiente, em desacordo com as exigências estabelecidas em
leis ou nos seus regulamentos”.
Porém, segundo o Ibama,
há grande dificuldade para comprovar que a mortalidade se deu pelo uso em
desacordo com as instruções autorizadas no registro. “Quando isso fica
comprovado – uso onde não devia, na quantidade que não devia, na época que não
devia, usando equipamento que não devia e causando a mortalidade – aí se
enquadra no artigo e se trata de crime ambiental”, informa o Instituto, através
da assessoria de imprensa.
Milhões de mortes
também em São Paulo – e por agrotóxicos
Testes laboratoriais
apontaram o contato com agrotóxico como causador da morte de abelhas também no
estado de São Paulo, onde a produção de mel chega a 3,7 mil toneladas por safra
– cerca de 10% do total nacional. Entre 2014 e 2017, uma pesquisa com a
participação da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e da Universidade
Federal de São Carlos (UFScar) realizou um mapeamento sobre os fatores que
contribuem para a perda de enxames. Em 78 cidades, os pesquisadores
contabilizaram 107 produtores que sofreram com perdas de colmeias. Em três anos
eles relataram que cerca de 255 milhões de abelhas morreram.
O professor e
pesquisador da Unesp Rio Claro Osmar Malaspina, um dos responsáveis pelo
trabalho, diz que os casos em São Paulo vêm acontecendo desde 2005. “Eles se
acentuam a partir de 2012, e até aquele momento os apicultores não sabiam como,
mas todas as abelhas passavam a morrer do nada e em menos de 24 horas. A grande
suspeita era de agrotóxicos, mas até aquele momento não tínhamos uma análise
para provar isso”.
O projeto começou em
2013 com patrocínio de empresas produtoras de agrotóxicos.Batizado de Colmeia
Viva, o projeto recebeu um telefone 0800 para denúncias. Quando uma abelha
morria, o apicultor ligava e fazia a queixa. “Após a análise, entregamos um
laudo para cada criador, que era público. E ele poderia usá-lo para entrar com
ação na Justiça”, explica.
O relatório do
mapeamento foi lançado no ano passado com conclusões voltadas para a criação de
um plano de ação nacional para boas práticas de aplicações de agrotóxicos. O
objetivo é manter uma relação produtiva entre a agricultura e a apicultura, sem
que nenhuma das duas áreas saia enfraquecida.
A iniciativa contou com
222 atendimentos voltados a apicultores, das quais 107 originaram visitas ao
campo. Em 88 ocorreram coletas de abelhas para análise focada na relação com a
aplicação de agrotóxicos. Em 59 casos – cerca de 67% – o resultado foi positivo
para resíduos de pesticidas. Em 27 casos, a hipótese é que a aplicação de
tóxico tenha sido feita fora da lavoura onde a colmeia fica, e em 21 casos a
suspeita é de uso incorreto dentro da própria residência (11 destes foram
causados por produtos à base de neonicotinoides e 10 à base de Fipronil).
O grupo também fez um
trabalho educativo com agricultores, ensinando modos de aplicação de pesticidas
que diminuam o impacto em abelhas. “Nos últimos meses estamos percebendo uma
queda nas ocorrências de mortandade, mas ainda temos que esperar mais alguns
anos para fazer um novo estudo que confirme isso e nos mostre os motivos”,
explica. Nos últimos dois meses as baixas em colmeias foram reduzidas para
cerca de 25.
Reavaliação de
agrotóxicos
Em decorrência dos
casos de mortandade de abelhas, o Ibama deu início em 2012 à reavaliação de
diversos ingredientes químicos usados em plantações. O primeiro está sendo o
neonicotinoides Imidacloprid, o mais usado do grupo. Empresas declararam ao
Ibama a comercialização de 1.934 toneladas de Imidacloprido só em 2010.
Simultaneamente, o Instituto está reavaliando também os neonicotinoides
Clotianidina e o Tiametoxam, e ao fim dos três processos iniciará os testes com
o Fipronil.
Em 19 de julho de 2012
o Ibama chegou a proibir a pulverização aérea do ingrediente ativo
Imidacloprid. O órgão determinou também que todos os produtos deveriam conter
nas embalagens o seguinte aviso: “Este produto é tóxico para abelhas. A
aplicação aérea NÃO É PERMITIDA. Não aplique este produto em época de floração,
nem imediatamente antes do florescimento ou quando for observada visitação de
abelhas na cultura. O descumprimento dessas determinações constitui crime ambiental,
sujeito a penalidades”. Porém, o Ministério da Agricultura alegou que a
aplicação aérea do Imidacloprid era imprescindível para determinadas culturas.
Com isso, três meses depois, ficou autorizada a pulverização para culturas de
arroz, cana-de-açúcar, soja, trigo e algodão.
Tendo em vista que os
agrotóxicos mais nocivos às abelhas estão sendo reavaliados, passando agora
pela Avaliação de Risco, o Ibama criou em 2015 um Grupo Técnico de Trabalho
para discutir os procedimentos a serem adotados para proteger especificamente
as abelhas. O grupo se reúne bimestralmente e conta com 13 participantes vindos
do setor acadêmico, da Embrapa, da Indústria e também do Ministério do Meio
Ambiente. Sua missão é propor uma avaliação obrigatória de risco de agrotóxicos
para abelhas. Porém, não há previsão de quando isso ocorrerá.
Ministério Público
Federal cobra respostas
Há procedimentos em
curso sobre a morte de abelhas em cinco procuradorias estaduais, no Distrito
Federal, Goiás, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul, segundo a
Procuradoria-Geral da República. A Agência Pública teve acesso a documentos
relativos a dois desses casos.
No Rio Grande do Sul,
há uma ação civil pública tramitando na 9ª Vara Federal de Porto Alegre. A ação
foi ajuizada em outubro de 2017 contra o Ibama, para obrigar a autarquia a
concluir no prazo de seis meses o processo de reavaliação da substância
Imidacloprid.
Porém, o Ibama afirma
que terá dificuldade de concluir o processo administrativo nesse prazo. Segundo
um memorando, o órgão está construindo diversos protocolos de testes, por se
tratar de avaliações ainda inéditas no país. A equipe que realiza as
reavaliações é composta por apenas cinco analistas ambientais: três biólogos,
um químico e um zootecnista.
Em Mato Grosso do Sul,
a Associação de Produtores de Mel de Dourados entrou com uma representação
protocolada em março de 2018 pedindo investigação do MPF/MS. Na justificativa,
a associação afirma que os apicultores estão perdendo sua renda e produção por
causa das mortes de abelhas “pelo uso indiscriminado e abusivo de agrotóxico
nas lavouras de cana de açúcar, soja, milho, arroz e outras culturas
agrícolas”.
A representação deu
origem a uma Notícia de Fato, uma demanda encaminhada aos órgãos para
investigação, e agora o MPF de Mato Grosso do Sul avalia se vai instaurar ou
não um procedimento próprio.
Leis para reduzir
pesticidas e salvar as abelhas
20 de maio é o Dia
Mundial das Abelhas, data criada para lembrar a importância desses insetos para
a produção de alimentos em escala global. Elas não são as únicas agentes
polinizadoras — pássaros, morcegos, esquilos, besouros e diversos outros
contribuem para a reprodução das plantas – mas o grande número e espécies de
abelhas as colocam no papel principal.
Para defendê-las, a FAO/ONU,
em parceria com a Organização Mundial de Saúde (OMS), elaborou o Código
Internacional de Conduta para o Manejo de Pesticidas. A organização destaca,
entretanto, que sem a diminuição do uso de agrotóxicos as abelhas continuarão
em risco. “Não podemos continuar nos concentrando em aumentar a produção e a
produtividade com base no uso generalizado de pesticidas e produtos químicos
que ameaçam os cultivos e os polinizadores”, alertou o diretor-geral da agência
da ONU, José Graziano da Silva.
A passos lentos, alguns
países vão adotando leis para salvar os zangões, rainhas e operárias. O
Fipronil já é proibido em toda a União Europeia há mais de uma década. Em 2004,
ele foi banido da França após ações que denunciavam o impacto do veneno —
naquele ano, cerca de 40% dos insetos criados nos apiários franceses foram
encontrados mortos. Os neonicotinoides entraram em discussão logo depois. Em
2013 tiveram os registros congelados por dois anos, e em 2018 veio o banimento
permanente.
Até os Estados Unidos
caminham na mesma direção. Em 2013, um relatório do Departamento de Agricultura
americano (USDA) mostrou que quase um terço das abelhas de colônias do país
morreram durante o inverno de 2012/2013. No ano seguinte, o então presidente americano
Barack Obama proibiu o uso de neonicotinoides em áreas de vida selvagem.
Fonte: Revista Galileu
[20/05/2019]
Nenhum comentário:
Postar um comentário