Experimento com plantio
do paricá em áreas desmatadas teve início em 1995
Uma técnica que
recupera a floresta amazônica a partir do plantio de uma única espécie nativa
pode ajudar a reconstituir uma área do tamanho do Estado do Paraná e reduzir a
pressão sobre regiões preservadas.
A técnica, desenvolvida
pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, estatal vinculada ao
Ministério da Agricultura) em parceria com uma empresa madeireira, consiste no
plantio do paricá, árvore cuja madeira é usada para fazer laminados.
Pesquisadores
verificaram que, a partir da plantação de paricás em uma área desmatada de 108
hectares (1 km²), outras espécies passaram a se propagar naturalmente no local.
Treze anos depois, a área tinha valor comercial 36% maior do que a de um lote
vizinho também desmatado, mas onde não havia sido feita qualquer intervenção.
O experimento teve
início em 1995 e ocorreu em uma fazenda em Dom Eliseu, município no nordeste do
Pará, em uma parceria entre a Embrapa Amazônia Oriental e o grupo madeireiro
Arboris.
Segundo a Embrapa, a
metodologia pode ser aplicada em mais de 19 milhões de hectares (área
equivalente à do Paraná) em áreas em diferentes graus de degradação no Pará.
Pesquisadores afirmam que a técnica pode ser replicada em outros Estados
amazônicos e também empregada com fins comerciais, aproveitando o valor do
paricá.
Para isso, porém, seria
preciso alterar a legislação ambiental, para permitir o corte de árvores com
menos de 30 anos de idade e menos de 50 cm de diâmetro, já que os paricás
costumam cair naturalmente por volta dos 18 anos de idade, antes de atingir
essa grossura.
Em parceria com a UEPA
(Universidade Estadual do Pará), a Arboris está catalogando espécies surgidas
na mata regenerada e que poderiam ser exploradas comercialmente.
Metodologia pode ser
aplicada em mais de 19 milhões de hectares em áreas em diferentes graus de
degradação no Pará
O engenheiro florestal
da Embrapa Jorge Yared diz que a região onde a pesquisa foi feita começou a ser
desmatada nos anos 1960, com a construção da rodovia Belém-Brasília. "Na
década de 1980, a região era conhecida como o maior polo serralheiro do
mundo", afirma.
Quando o experimento
começou, sobravam poucas árvores, nenhuma de grande porte. "Era o que
chamamos de floresta de paliteiro", diz o engenheiro agrônomo Ademir
Ruschel, da Embrapa.
Ruschel afirma que
mudanças nas regras ambientais para permitir o corte do paricá, árvore de
madeira branca, reduziria a pressão para a retirada das árvores de madeira
vermelha, com maior densidade e maior valor de mercado. "Quem explora a
área ganha tempo para colher essas árvores, que geralmente duram centenas de
anos, em um tamanho maior", afirma.
O engenheiro diz que a
rentabilidade pode fazer com que os proprietários não só mantenham a cobertura
florestal em 50% em suas terras, conforme exigido por lei, mas até mesmo
invistam em preservar ou recuperar um percentual maior de floresta.
"Existe uma pressão
grande sobre a floresta da expansão da monocultura da soja e dos pastos para a
criação de gado", afirma.
Segundo Romulo Batista,
coordenador do Projeto Amazônia do Greenpeace, a iniciativa é importante porque
aumenta a possibilidade de lucro com a floresta em pé, além de diminuir a
pressão sobre as áreas preservadas.
"É uma alternativa
ao ciclo de desmatar ou deixar pegar fogo e depois ocupar", diz. "É
claro que a área recuperada não tem os mesmos benefícios da mata nativa, mas o
trabalho trata de áreas em que a mata original já foi destruída."
Para difundir a
técnica, Siviero, da Arboris, afirma que pretende contatar assentamentos e
agricultores familiares que vivem na região.
Leonardo Fuhrmann
De São Paulo para a BBC
Brasil
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