segunda-feira, 15 de abril de 2013

LEONARDO BOFF SUSTENTABILIDADE NA REINVENÇÃO DA EDUCAÇÃO

Acesse o site do palestrante e conheça um pouco mais
sobre suas obras e pensamentos! www.leonardoboff.com

O filósofo e teólogo Leonardo Boff é um dos grandes destaques da Educar 2013. Com o tema “Sustentabilidade na Reinvenção da Educação na Visão de Um Apaixonado Pelo Criador e Pela Criatura”, Boff irá abordar questões referentes ao meio ambiente a importância da humanidade zelar pelo seu planeta. Como esse debate pode e deve fazer parte da escola? Para responder essa e outras dúvidas conversamos com o palestrante, ele concedeu ENTREVISTA EXCLUSIVA para a equipe do evento. Confira!

Qual é a realidade da educação brasileira com relação ao debate sobre o meio ambiente dentro da escola? E qual é o incentivo que os alunos recebem para que tenham atitudes que prezem pela sustentabilidade? Mais e mais as escolas estão despertando para temáticas ligadas à ecologia. A consciência geral na sociedade é muito insuficiente e mesmo no governo, que trata esta questão como uma externalidade, vale dizer, que pode ser sacrificado em nome do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e do progresso imediato. É importante descolar o conceito de sustentabilidade daquele do desenvolvimento. Pois o tipo de desenvolvimento que temos supõe a dominação da natureza e a acumulação ilimitada. Isso é totalmente insustentável. Desenvolvimento sustentável significa atingir um crescimento econômico que seja amplamente compartilhado pela sociedade e que proteja os bens e serviços vitais do planeta. Sustentabilidade é permitir que todos os seres sejam vistos como tendo um valor em si, independentemente do uso humano, zelar para que continuem a existir e que possam ser passados às futuras gerações enriquecidos. A educação supõe transmitir um novo olhar para com a natureza e para com a Terra. Esta é mãe que nos dá tudo o que precisamos. Nossa missão é cuidar dela. Isso implica cuidar de seu sangue que é a água para que seja limpa, de sua pele que é a mancha verde, de sua respiração que é o ar que não pode ser poluído, dos solos onde vivem quintilhões de quintilhões de micro-organismos para que não sejam destruídos pelos agrotóxicos, etc.

O título de sua palestra afirma que a visão a ser apresentada sobre a “Sustentabilidade na Reinvenção da Educação” será a partir dos olhos de um “apaixonado pelo criador e pela criatura”. O senhor poderia explicar em outras palavras esta afirmação? Ninguém se engaja pelas questões ecológicas que tem a ver com a vida, com a mãe Terra e com o futuro de nossa civilização se não for tomado pela paixão de amar, cuidar, proteger e defender essa herança sagrada que o universo ou Deus nos legaram. Não basta a razão. Ela é fria e calculista. Precisamos de coração e de afeto. Quer dizer, precisamos resgatar a razão cordial e sensível que é a sede dos valores, da ética e da espiritualidade. Ver em cada criatura a marca registrada de Deus, descobrir as mensagens que cada criatura nos quer transmitir, essa é a singularidade do ser humano, portador de consciência e de inteligência. Esta atitude de encantamento e de respeito diante de cada ser, por insignificante que possa parecer, é urgente hoje, pois maltratamos a natureza e tiramos mais dela do que ela pode repor. Esta estratégia é irresponsável e hostil à vida.

Os professores estão preparados para trabalhar com os alunos questões sobre sustentabilidade? Ninguém está preparado porque no processo de formação dos docentes não havia ainda a preocupação ecológica. Ela surgiu mundialmente só a partir dos anos 70 quando se deu o primeiro alarme ecológico com a detectação dos limites da Terra que obrigava a propor limites ao crescimento. Hoje não temos alternativa: ou nos preparamos para um novo modo de habitar o planeta, convivendo com seus limites e com as possibilidades reduzidas dos ecossistemas ou então não teremos futuro. Já construímos uma máquina de morte que nos pode eliminar a todos e agravar profundamente o sistema-vida. Então importa que todos os saberes sejam ecologizados, quer dizer, deem a sua colaboração no sentido de limitar nosso consumismo, respeitar a capacidade de suporte dos ecossistemas e viver uma sobriedade compartilhada. Se respeitarmos a dinâmica na natureza, ela nos dará tudo o que precisamos. Mas precisamos escutar a natureza e conhecer seus mecanismos.

Qual o papel dos pais para que os jovens e as crianças tenham atitudes responsáveis com relação ao meio ambiente e que isto não seja apenas um incentivo da escola? A família é fundamental para uma educação ecológica. Pois é na família que os filhos e filhas aprendem os hábitos de cuidar do lixo, da água, das plantas, de não queimar nada, de reduzir o consumo, de reusar e reciclar. Porém, mais do que tudo: é na família que se aprende a ter limites, tarefa principal dos pais. Precisamos hoje de limites na exploração da natureza, limites no consumo, limites nas relações sociais. Devemos buscar a justa medida em todas as coisas. A justa medida é o meio termo entre o mais e o menos, mas aquilo que nos satisfaz e deixa espaço para os outros. No fundo devemos aprender a ser responsáveis por tudo. Isto significa darmo-nos conta das consequências de nossos atos e de nossas palavras para que sejam construtivos e não destrutivos, para que favoreçam a continuidade da natureza, da vida e de nossa civilização. Se não tivermos responsabilidade poderemos conhecer os caminhos já percorridos pelos dinossauros que despareceram após uma grande catástrofe ecológica.

Como a tecnologia pode estar inserida neste contexto? E como ela pode ser utilizada como uma ferramenta que incentive a sustentabilidade? Grande parte da tecnologia hoje não se orienta pela melhoria da vida, mas para o aumento dos lucros no mercado. Tudo virou commodities, tudo virou mercadoria com a qual se pode fazer dinheiro. 70% da tecnologia atual é tecnologia para fins militares. Podemos destruir toda a vida na Terra por 25 formas diferentes. Então devemos perder o fascínio pela tecnologia. Ela pode ser a grande arma de destruição coletiva. Mas ela pode nos ajudar a curar as chagas da Terra, prolongar a vida humana, tornar mais leve o fardo da existência e facilitar a comunicação entre todos. Mas ela nunca substitui a pessoa humana. Um computador ou um Ipad não estende um braço virtual e nos enxuga uma lágrima ou nos coloca a mão ao ombro para nos dar força. O ser humano solidário e amigo de outro ser humano pode. Hoje, foram desenvolvidas tecnologias que agridem menos a natureza e assim favorecem uma perspectiva ecológica. Mas o que precisamos mesmo não é de novas tecnologias, mas um novo paradigma, vale dizer, uma forma nova de nos relacionar com a Terra e a natureza de tal modo que entremos em sinergia com elas. E aí sim usaremos as tecnologias que nos ajudarão na preservação dos bens e serviços escassos da Terra.

Qual a importância em levar este debate para um grande evento, como a Educar? Hoje encostamos nos limites da Terra. O aquecimento global é a forma como a Terra, superorganismo vivo (chamado Gaia) revela seu estado doentio. Daí se entende os eventos extremos de secas e enchentes, nevascas de grande magnitude e tufões devastadores. O próprio Governo americano, que sempre relutava em aceitar esse fenômeno porque atrapalhava os negócios das grandes corporações, hoje trata o aquecimento global como uma questão de segurança nacional. A educação deve introduzir os estudantes para essa nova fase da Terra e da humanidade. Se nada fizermos poderemos chegar tarde demais e seguir um caminho que nos conduz a um abismo sem volta. Não dá para seguir com uma educação alienada da situação global da Terra e da vida. Não seria responsável e nem estaria à altura dos desafios atuais. Agora não temos uma arca de Noé que salve alguns e deixa perecer os demais. Ou nos salvamos todos ou pereceremos todos. Por isso a importância dos valores do cuidado, do respeito pela vida, da responsabilidade por tudo o que fazemos em termos dos bens essenciais à vida, como água, fibras, solos, ar, alimentos etc. Esse debate deve ser levado aos estudantes para que sejam ativos e não passivos diante da gravidade da situação geral do planeta.

Crédito da Entrevista: jornalista Patricia Melo – Presença Comunicação Educacional

Eliana Macedo Lozano cadastrada em nossa página no Facebook

Nenhum comentário:

Postar um comentário