domingo, 14 de abril de 2013

CARRINHO ELÉTRICO SUBSTITUI CARROÇAS

Acabar com os maus-tratos a cavalos. Melhorar a qualidade de vida de catadores de lixo. Diminuir a interferência da coleta no trânsito da cidade.

Um carrinho elétrico de engenharia simples, manutenção econômica e ideia sustentável é a proposta que vem sendo testada há quatro meses em Santa Cruz do Sul, no Vale do Rio Pardo, e que pretende amenizar três problemas com uma única solução.

Chamado de Cavalo de Lata, o projeto nasceu da indignação de uma publicitária com os maus tratos sofridos pelos animais ao puxarem carroças pesadas por longos trajetos. O invento está sendo executada por um engenheiro de produção que pesquisou em diversas cidades do mundo alternativas semelhantes e chegou à ideia do carrinho elétrico.

— Cansei de ver e ouvir histórias de animais doentes e desnutridos carregando carroças pesadas e de alguns que têm até olhos furados para não se assustarem na rua, aí pedi que o meu namorado e engenheiro criasse uma solução — explica a publicitária Ana Paula Knak, 36 anos.

A partir dessa provocação, Jason Duani Vargas, 33 anos, começou a rabiscar o projeto que ainda está sendo aperfeiçoado e em processo de patenteamento.

— Visitei lugares como a China onde tudo é elétrico e vi modelos de carrinho de catadores na Alemanha, mas eram pequenos. Aí surgiu projeto com esse conceito sustentável, fiz voltado para melhorar a vida dos catadores — explica Vargas.

No entanto, com ajuda das redes sociais, a ideia já chegou a lugares distantes e o idealizador recebe quase que diariamente pedidos para conhecer o Cavalo de Lata. Segundo o idealizador do carrinho, um clube de golfe, uma funerária, uma empresa fumageira, entre outros empreendimentos, já entraram em contato pedindo se era possível fazer a adaptação do carrinho.

Entretanto, o protótipo que deve estar finalizado em cerca de um mês é direcionado à coleta de lixo seletivo. Os 50 trabalhadores vinculados à Cooperativa dos Catadores e Recicladores de Santa Cruz do Sul (Coomcat) vêm testando regularmente o protótipo em um local fechado e fazem sugestões de mudanças, que são discutidas com o engenheiro e colocadas em prática na metalúrgica onde o carrinho fica guardado.

Segundo o presidente da Coomcat, que também é catador, Fagner Jandrey, a ideia já foi aprovada por eles e inclusive há verbas garantidas por meio de programas federais para custear a confecção de cerca de 20 carrinhos. O número exato vai depender do valor que vai custar cada carrinho, que ainda não está definido, mas deve ficar em torno de R$ 12 mil.

— No entanto, a coleta seletiva está em processo de ampliação e vamos dobrar o número de catadores, por isso, vamos precisar de mais apoio público para conseguir um carrinho por catador — acrescenta Jandrey.

No município, não há um levantamento do número de carroças puxadas por cavalos e nem de quantos carrinhos de tração humana existem, já que a cooperativa não atende a todos os catadores. Assim que estiver pronto, o Cavalo de Lata deve ser encaminhado para aprovação do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) e, depois de homologado, deverá ser vistoriado pelo Departamento Estadual de Trânsito (Detran) gaúcho.

Como não existe legislação para carrinhos elétricos no país, Vargas não sabe o que o órgão vai definir, se será exigido emplacamento e carteira de habilitação ou adequações no projeto.

Como exemplo, cita o Rio de Janeiro, onde o prefeito assinou decreto liberando bicicletas elétricas, que, na prática, são semelhantes aos carrinhos que ele desenvolveu. Lá a única condição é que os equipamentos não ultrapassem o limite de velocidade de 20 quilômetros por hora.

— Projetei o carrinho pensando nesse limite, até porque diminui o risco e a gravidade de possíveis acidentes, mas também é um projeto bem flexível e vou ajustar tudo o que pedir pra conseguir colocá-lo nas ruas a serviço dos catadores — explica o idealizador do Cavalo de Lata.

Projeto de conscientização e cuidado dos cavalos
Além de dar nome ao carrinho elétrico que pode substituir carroças puxadas por cavalos e carrinhos guiados com força humana, Cavalo de Lata é o nome de uma campanha de conscientização sobre os maus tratos a cavalos e também do projeto, ainda em fase de concepção, que pretende recolher os animais que forem inutilizados após a aquisição dos carrinhos elétricos, cuidá-los e, depois, doá-los para um projeto de equoterapia.

Para conseguir colocar essas ações em prática, a coordenadora do projeto, Ana Paula Knak, já idealizou camisetas e souvenirs personalizados do Cavalo de Lata que já estão à venda. Parte da verba também deve ser revertida para ONGs que cuidam de animais.

Interessados podem entrar em contato pelo telefone (51) 9993-1805 ou acessar www.facebook.com/CavaloLata

Fim das carroças em trote lento na Capital
Na Capital, o fim dos veículos de tração animal e humana é lei desde 2008 e previa prazo de oito anos para a extinção das carroças e carrinhos, mas que foi antecipado para junho de 2015. No entanto, o início da redução gradativa desses veículos, prevista inicialmente para vigorar a partir de março, foi transferida para setembro. Assim, a partir de outubro, passa a ser proibido circular usando carroças e carrinhos na Zona Sul.

Após, gradativamente, outras regiões vão ser incluídas. A fim de oferecer condições para que os catadores se adéqüem a essa lei ou então aprendam outras fontes de trabalho, a prefeitura criou o projeto Todos Somos Porto Alegre — Programa de Inclusão Produtiva na Reciclagem.

Segundo a coordenadora com Denise Souza Costa, as ações do programa já estão acontecendo desde 2010 e ressalta que uma parceria com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) garantirá R$ 18 milhões para o projeto.

A estimativa é de que 1,8 mil famílias sejam beneficiadas, sendo 1,2 mil famílias de carroceiros, carrinheiros e catadores, mais 600 famílias vinculadas a unidades de triagem, em um total de 5,4 mil pessoas.

vanessa.kannenberg@zerohora.com.br
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