Mata absorve chumbo, zinco, cromo e cádmio
despejados no ambiente sobretudo pelo trânsito na metrópole.
RIO - Da Pedra da Proa, um recanto desconhecido pela maioria dos cariocas, pode se ver reunidos numa só moldura os principais cartões-postais do Rio de Janeiro . Estão lá o Cristo Redentor , o Pão de Açúcar , a Baía da Guanabara , a Lagoa , as praias do Leme ao Pontal . Mas é a Floresta da Tijuca , que cerca a Proa, que chama a atenção de especialistas.
Nela,
a expressão " pulmão do Rio " cabe sem exagero. Um estudo da PUC-Rio
mostra que a floresta absorve os metais pesados despejados pelo trânsito e
torna o ar mais limpo. Um serviço ambiental tão pouco conhecido quanto a Proa e
que dá ao Rio, mais do que a qualquer outra cidade do mundo, motivos para
celebrar e refletir no Dia Mundial do Meio Ambiente .
Com
suas montanhas, florestas, manguezais e praias, o Rio é a metrópole com maior
capital natural e tem a maior cobertura verde entre as grandes cidades do
planeta, diz Fabio Scarano, professor da UFRJ e coordenador geral da Plataforma
Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos.
São
28% do território só de florestas (Tijuca, Pedra Branca e Mendanha), sem contar
jardins e parques públicos. Nenhuma outra grande cidade tem tanto verde e o
valoriza tão pouco, destaca ele.
Filtro
natural carioca
O
grupo de Adriana Gioda, do Departamento de Química da PUC , investigou o papel
da floresta na absorção de metais pesados, como chumbo, zinco, cromo e cádmio.
No Rio, as emissões de veículos são as principais fontes dessa forma de
poluição , nociva para pulmões e coração. O grupo usou espécies de plantas da
floresta para monitorar a poluição e viu que os níveis de poluição são menores
na mata. O estudo ainda está em andamento e promete revelar ainda mais sobre o
pulmão do Rio.
—
A floresta a torna o Rio mais respirável — diz Adriana Gioda, que tem o projeto
de pesquisa apoiado pela Faperj.
O
professor do Departamento de Geografia da PUC Rogério Ribeiro de Oliveira,
especialista na Floresta da Tijuca, acrescenta que além de contribuir para
regular o clima local, as matas cariocas protegem a cidade da chuva ácida e
ajudam a eleminar a poluição do ar. Não apenas, a Tijuca, mas também as
florestas da Pedra Banca e do Mendanha são essenciais para a cidade, destaca.
SAIBA
MAIS: Paisagem extinta da Mata Atlântica está de volta ao Rio
Coorganizador
do livro "Rio de Janeiro capital natural do Brasil", Rodrigo
Medeiros, professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, salienta
que a falta de planejamento e governança histórica, agravada recentemente,
torna a cidade vulnerável a desmoronamentos, inundações e proliferação de
doenças transmitidas por mosquitos, todos problemas que poderiam ser amenizados
ou evitados com boa gestão ambiental.
—
O Rio não é uma cidade com uma floresta dentro. É uma floresta com uma cidade
no meio. E precisa se reconhecer como tal. Temos um imenso patrimônio natural e
não o usamos a nosso favor. A má gestão e a destruição das matas agravam em vez
de evitar nossos problemas crônicos de deslizamentos e inundações. Toda vez que
invadem e destroem um pedaço de mata roubam do carioca uma parte de seu
patrimônio, sem o qual o Rio não seria habitável — afirma Medeiros.
Copa
da floresta 'segura' chuva
Já
se sabia que a floresta é importante para evitar desmoronamentos e amenizar o
calor. Estudos do grupo de Ana Luiza Coelho Netto, do Departamento de Geografia
da UFRJ, estimaram que a copa da floresta intercepta cerca de 20% da água das
chuvas. Sem ela, as enchentes e desmoronamentos seriam mais destrutivos.
Especialistas dizem que há soluções na própria natureza para combater mazelas
urbanas. Os problemas são velhos, mas nunca foram tão graves quanto agora.
—
A crise climática que trouxe chuvas intensas frequentes e a má gestão da cidade
são agravantes. E a solução não é a velha e ineficaz receita de sempre. Obras
de engenharia não vão resolver sozinhas desmoronamentos e enchentes. A solução
está em planejar levando em conta o capital natural . Há conhecimento. Falta
vontade política — diz Medeiros.
Frequentador
assíduo das matas cariocas, Horácio Ragucci, presidente do Clube Excursionista
Brasileiro (CEB) e coordenador-geral da Trilha Transcarioca, lembra que as
matas prestam ainda mais serviços, ao oferecer lazer e bem-estar. Ele costuma
apreciar a paisagem da Proa para relaxar:
—
É um patrimônio que só o Rio tem e quase não usufrui e conhece. Há cem anos o
CEB já protestava contra invasões e o mau uso da floresta. Está mais do que na
hora de abraçar esse patrimônio.
Jornal O Globo
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