Cruzamentos genéticos e clonagens, assuntos que aparentemente passavam longe do rodeio, se transformaram cada vez mais nos últimos anos em algo comum nas conversas entre tropeiros --donos de boiadas-- e peões.
Os touros estão cada vez mais fortes e ágeis, graças ao avanço da ciência no mundo country, e passaram a ter alimentação balanceada, cuidados veterinários e até a praticar natação.
Com isso, chegam a pesar mais de uma tonelada --contra 800 kg, no máximo, até o final da década passada--, prolongam a carreira e preocupam os competidores.
Um dos precursores é o tropeiro Paulo Emilio Marques, dono do touro Bandido, o mais temido animal dos rodeios brasileiros morto em 2009.
Ele cria três clones do touro e terá em Barretos 20 animais com esse perfil --inclusive com atendimento de hospital veterinário.
Hoje, raças como marchigiana, nelore e simental estão entre as mais usadas --e mais cruzadas pelos proprietários-- nas arenas do país.
"Nelore com simental é o cruzamento mais usado. Mas a marchigiana é muito boa também", afirma.
Dados do Conselho Nacional de Pecuária de Corte indicam que a marchigiana ganha peso rápido e tem alto desenvolvimento de massa.
Já o simental, que tem peso médio de 1.050 kg e cresce rápido, tem boa musculatura e sem tendência a acumular excesso de gordura. O nelore é caracterizado por ter ossos finos e leves.
O tropeiro Humberto Francisco Nucci disse preferir cruzar nelore com marchigiana. "Sai uma máquina de pulo. Quando sai um animal bom, ele aguenta por muitos anos. Faz seis anos que iniciei o selecionamento de animais. Se não vai bem, já tiro e ponho outro."
Dos três clones do touro Bandido que o tropeiro Paulo Emilio Marques tem, dois são considerados bons para serem usados em rodeios.
"Até pensei em não usá-los, por causa da mística. Mas achei melhor colocá-los nos rodeios", afirmou.
O investimento para a clonagem chega a R$ 30 mil por unidade, mas o tropeiro disse ter feito parceria com uma empresa norte-americana.
Ele tem, ainda, 1.500 doses de sêmen de Bandido, que vende por R$ 2.000 --a média de outros bois é de R$ 300.
Invicto em mais de 200 montarias seguidas --um peão conseguiu parar, mas antes de ele virar "celebridade"--, o animal ganhou um memorial em Barretos.
A fama de Bandido se alastrou em 2001, quando o peão Neyliowan Tomazeli, de Poloni, campeão da Festa do Peão de Barretos de 1999, desafiou o touro no Mundial Toyota, em Jaguariúna.
Depois de ser derrubado, o peão foi arremessado a quase seis metros de altura e ficou nove meses numa cadeira de rodas. Quatro anos depois, o touro foi "ator" na novela "América", da TV Globo.
Jornal Folha de São Paulo
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