As abelhas são capazes de encontrar o caminho de volta para casa sem
precisar recorrer ao sol, bússola natural utilizada por outros insetos e pelos
pássaros. Uma pesquisa recente sugere que elas utilizam um mecanismo parecido
com o usado pelos mamíferos: um mapa cognitivo construído a partir da lembrança,
apesar de seus cérebros terem um tamanho consideravelmente inferior. O estudo
publicado nesta segunda-feira (2) na PNAS (Proceedings of the National Academy
of Sciences), publicação oficial da Academia Nacional de Ciências dos Estados
Unidos, oferece uma nova dimensão sobre as complexas habilidades de navegação
das abelhas.
Para comprovar a teoria, a equipe de Randolf Menzel, neurobiólogo da
Universidade Livre de Berlim e coautor da pesquisa, mudou o relógio biológico
das abelhas, usando anestesia geral para induzir seu sono. Quando as abelhas
acordaram, os pesquisadores soltaram os insetos a vários metros de distância da
colmeia e usaram um radar harmônico para rastrear o caminho de volta.
Ao perceberem que estavam em um local estranho, as abelhas passaram a se
locomover na direção contrária à colmeia, por pensarem que ainda era manhã e que
o sol estaria em determinada posição naquele momento. "Mas depois elas
redirecionaram o caminho, ignorando o sol", afirmou Menzel. A equipe de
pesquisadores acredita que esse redirecionamento foi feito com base no mapa
cognitivo.
O biólogo comportamental da Universidade Estadual de Michigan, Fred Dyer,
também envolvido com a pesquisa, afirmou que os resultados da equipe de
pesquisadores oferecem boas evidências de que as abelhas não usam um tipo de
vetor aditivo para navegação, ligado à posição do sol. Ele elogiou também o uso
do radar harmônico e da anestesia para ter uma visão da vida cognitiva das
abelhas.
Fred Dyer, no entanto, disse não estar ainda totalmente convencido de que
as abelhas usam um mapa cognitivo. Segundo ele, os insetos podem estar usando
recursos independentes do sol para navegarem, como faz um marinheiro em relação
ao um farol. Mas isso não seria o mesmo que usar um mapa cognitivo, que permite
a um indivíduo seguir por um caminho desconhecido em direção a um objetivo
invisível, sem necessariamente usar um marco.
Nos mamíferos
O mapa cognitivo usado pelos mamíferos se origina no hipocampo do cérebro.
Os humanos, por exemplo, conseguem se localizar mesmo dentro de um cômodo sem
janelas, a partir de uma orientação espacial construída com base no conhecimento
da localização em relação ao mundo externo.
"Eles podem apontar para suas casas mesmo que não possam vê-las", afirmou
Fred Dyer. Segundo os autores do estudo, as abelhas podem fazer algo similar,
embora em um nível muito mais rudimentar.
Para Randolf Menzel, as abelhas usam esse tipo de mecanismo, embora não
armazenem dados. Em vez disso, elas conseguem "lembrar", a partir de esquema
bastante rudimentar, de aspectos do meio ambiente que as cercam.
Menzel espera caracterizar melhor suas descobertas. Ele planeja colocar as
abelhas em labirintos montados em laboratório e gravar seus sinais cerebrais,
enquanto interagem com um ambiente artificial. Ele espera que isso ofereça novas
pistas sobre a cognição das abelhas e suas habilidades de navegação.
UOL
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