domingo, 15 de julho de 2012

O VERDE AVANÇA NAS EMPRESAS

Richard Branson (à dir.) debate com Kumi Naidoo,
diretor do Greenpeace, e a atriz Kucy Lawless.

As exaustivas e inoperantes negociações entre diplomatas e chefes de Estado, na Rio+20, realizada no Riocentro, no Rio de Janeiro, terminaram sem motivos para comemorações. Mas, enquanto o documento oficial da conferência das Nações Unidas não trouxe avanços, nem metas concretas de redução das emissões que determinam o aquecimento global, boas notícias vieram dos eventos do setor privado. Centenas de empresas aproveitaram o para anunciar passos concretos no sentido de tornar seus negócios mais sustentáveis, mediante a celebração de compromissos voluntários. A chamada “economia verde”, apesar de novidade nos textos oficiais, já está se tornando realidade.

Não apenas nos gigantescos números de investimentos em energia renovável, mas também na mudança de modelos de negócio e práticas em diversas companhias. “Temos que trabalhar mais porque os governos não cumprem sua parte”, afirmou o bilionário britânico Richard Branson, dono do grupo Virgin. Isso já ocorre em diversas áreas, inclusive na indústria automobilística, uma das vilãs de emissões de gases. A alemã BMW, por exemplo, que já vende modelos híbridos, deve lançar no ano que vem sua primeira linha de carros totalmente elétricos, a BMWi, que terá os modelos i3 (compacto) e i8 (esportivo). A companhia trouxe para demonstração na Rio+20 o Mini Cooper elétrico, que vem sendo testado há dois anos com 600 consumidores em todo mundo.

A última fábrica construída pela BMW, em Tiexi, na China, utiliza 50% menos energia do que a média das outras unidades industriais. A companhia já se prepara para um futuro de mais restrições à circulação de automóveis, não apenas por emissões, mas também pelo trânsito. Alguns de seus serviços na Europa até estimulam a redução do uso de seus carros. “Se a BMW quiser continuar existindo por mais 100 anos, vai se transformar numa empresa de mobilidade e não apenas de automóveis”, afirma o vice-presidente de estratégia corporativa da montadora, Rainer Feurer. Em Berlim e Dusseldorf, por exemplo, o projeto “Drive Now” permite que motoristas aluguem BMWs apenas por algumas horas.

O serviço “connected drive”, que orienta os motoristas de carros da marca, pode recomendar, dependendo do trânsito, que o cliente estacione o carro e vá de trem ao seu destino. Num evento paralelo à Rio+20, um grupo de 226 empresas da seção brasileira do Pacto Global – grupo das Nações Unidas para o avanço de práticas sustentáveis, que reúne sete mil empresas de 135 países – anunciou compromissos em favor da economia verde. Apesar de genérico, o texto traz a promessa das empresas de definir metas de sustentabilidade e relatar seu progresso, além de pressionar os governos por legislação favorável à sustentabilidade. Para Carlos Fadigas, presidente da Braskem, uma das signatárias, o Brasil pode ser um dos líderes da economia verde no mundo.

A petroquímica do grupo baiano Odebrecht reduziu, nos últimos três anos, a emissão de gás carbônico em 12%, e a geração de efluentes, em 36%, desde 2004. Segundo Fadigas, os produtos sustentáveis poderiam ser incentivados pelo governo com redução tributária. “Uma diferenciação para produtos sustentáveis estimularia as empresas a investir em produtos como o bioplástico”, afirma o executivo. A Braskem produz 200 mil toneladas anuais de plástico derivado da cana-de-açúcar, um percentual ainda modesto diante de sua produção total de 16 milhões de toneladas de resinas. Assinaram o compromisso brasileiro companhias energéticas como Neoenergia, Chesf , Eletrobras e Itaipu, além de grupos como BRFoods, Whirpool, Votorantim, Santander e Pão de Açúcar.

A fabricante de pneus Pirelli comprometeu-se a medir o rastro total de carbono (carbon footprint) no ciclo de vida completo de um pneu da marca, o Cinturato P7, produzido em sua fábrica de Campinas. Além de extrair sílica para a fabricação de pneus da casca de arroz, com impacto ambiental menor que o tradicional, a empresa estuda usar energia solar na produção. “Precisamos ser pioneiros e não esperar exigências oficiais para implantar práticas de sustentabilidade”, afirma o diretor de sustentabilidade da Pirelli, Filippo Bettini, para quem os problemas relacionados com a crise dificultaram o desempenho dos governos dos países desenvolvidos.

Segundo Bettini, a Pirelli se comprometeu a reduzir globalmente sua emissão de gás carbônico em 15%, até 2015, e o consumo de água em 70%, em relação aos níveis de 2009. No evento de responsabilidade corporativa no Rio de Janeiro, que contou com a participação de quase três mil executivos, outro compromisso foi anunciado por 45 multinacionais: criar metas para economia de água em suas operações, e contribuir para reduzir a crise de suprimento em várias regiões do planeta. Cerca de 800 milhões de pessoas em todo o mundo não têm acesso a água potável de boa qualidade. Entre as empresas signatárias estão a AB Inbev, Unilever, Coca-Cola e Stora Enso. Várias delas anunciaram redução no consumo de água, no ano passado, como a AB Inbev (8,2%) e Carlsberg (5,6%).

A Coca-Cola promete que até 2020 suas operações terão um impacto neutro. Pressões pelo lado financeiro, como a promovida por bancos e bolsas de valores, também podem ajudar as empresas a adotar critérios sustentáveis. O presidente da BM&FBovespa, Edemir Pinto, afirma que, em até dois anos, a bolsa brasileira exigirá a publicação de relatórios de responsabilidade social de empresas interessadas em listar suas ações no Novo Mercado. Hoje, apenas 20% das empresas listadas na Bovespa publicam esse tipo de relatório. O presidente da Bovespa é favorável a que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o órgão regulador do mercado de capitais, exija a publicação. “É preciso dar prioridade a essa questão e transformar boas práticas em obrigação”, afirma Pinto.

Tatiana Bautzer enviada especial ao Rio
Revista Isto È Dinheiro

Nenhum comentário:

Postar um comentário