"É necessário reconhecer que o documento reflete pouca ambição, mas que foi um passo a frente. É um “chão” para que os países possam construir uma estrutura própria capaz de estimular o desenvolvimento sustentável considerando suas características regionais. A sustentabilidade é uma questão irreversível, um caminho sem volta".
Principal articuladora do setor privado brasileiro no processo da Rio+20, a presidente-executiva do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), Marina Grossi, sai da conferência satisfeita com a participação mais ativa dos 'Major Groups', nos quais as empresas estão incluídas. Em relação a resultados, sua preocupação é ampliar o horizonte de análise para além do documento oficial. "A maior transformação acontece fora do ambiente da ONU. As empresas e também as cidades deram exemplos claros disso, ao apresentarem propostas concretas para o desenvolvimento sustentável", disse.
Marina atuou nas negociações do Protocolo de Kyoto, representou o G77 mais China na área de Mecanismo Financeiro, foi assessora do Ministério da Ciência e Tecnologia e fundou a Fábrica Éthica Brasil onde lançou a iniciativa “Carbon Disclosure Project”. Depois, como coordenadora da Câmara do Clima no Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), ajudou a trazer para o Brasil o “GHG Protocolo”, a ferramenta mais usada para medir as emissões de gases de efeito estufa. Na sexta-feira, após o encerramento da Rio+20, ela falou ao site de VEJA.
Qual é o seu balanço da Rio+20? Representa o marco histórico indicado por Ban Ki-moon?
Marina Grossi – Ainda pode demorar alguns meses para avaliarmos o real impacto de uma Conferência do porte da Rio+20. Além do documento oficial, centenas de acordos e compromissos foram firmados. A Rio+20 é um marco histórico no processo adotado pela ONU e pelo governo brasileiro. Foi a primeira vez que as Nações Unidas buscaram uma participação ativa dos “Major Groups”, nos quais as empresas estão incluídas. Ficamos satisfeitos com essa tentativa e desejamos que o processo seja aprimorado e fortalecido no futuro.
A conferência chegou a ser acusada de se tornar uma grande rodada de business com clara influência do setor privado, por causa do tema-chave original, economia verde. Ao final, o setor privado foi parcamente privilegiado na declaração política e seu principal fórum de interesse (Global Compact) não teve maior destaque. Em sua avaliação, por que isso aconteceu?
Marina Grossi – O fato de a Economia Verde ser o tema da Rio+20 já tem um simbolismo muito forte. Se compararmos com 20 anos atrás, o reconhecimento do setor privado hoje é muito maior. Mas a maior transformação acontece fora do ambiente da ONU. As empresas e também as cidades deram exemplos claros disso, ao apresentarem propostas concretas para o desenvolvimento sustentável. No dia 22/06, por exemplo, o CEBDS apresentou o documento Visão Brasil 2050 – Uma nova agenda de negócios para o país, que tem o propósito de apresentar uma visão de futuro sustentável e qual o caminho possível para alcançá-lo. É um ponto de partida que pretende ser a base para o planejamento estratégico das empresas brasileiras. É também a contribuição do setor empresarial para a sociedade brasileira na busca da efetiva implantação do desenvolvimento sustentável. Independentemente disso, penso que é possível ampliar a participação do setor privado nos processos decisórios das Conferências da ONU.
O que ficou fora da declaração política e que prejudica a atuação das empresas em prol do desenvolvimento sustentável?
Marina Grossi – Inicialmente, é preciso reconhecer o esforço e o mérito do governo brasileiro para conquistar o consenso. Dentro do ambiente da ONU, com quase 200 países defendendo interesses próprios, esse é um desafio hercúleo, que a diplomacia brasileira soube administrar. Por outro lado, também é necessário reconhecer que o documento reflete pouca ambição, mas que foi um passo a frente. É um “chão” para que os países possam construir uma estrutura própria capaz de estimular o desenvolvimento sustentável considerando suas características regionais. A sustentabilidade é uma questão irreversível, um caminho sem volta. O fato é que temos um documento aprovado por todos os países e que inclui assuntos importantes como os objetivos do desenvolvimento sustentável, capital natural, consumo sustentável e os oceanos. Por outro lado, gostaríamos de ter visto um posicionamento mais enfático sobre transparência (relatórios de sustentabilidade), inclusão de externalidades, direcionamento de incentivos e taxas para economia verde e fortalecimento de parcerias público-privadas.
Como o setor privado considerou a atuação dos diferentes países na Rio+20? Quem emperrou mais, quem impulsionou? E a postura brasileira, como foi avaliada?
Marina Grossi – Cada país tem uma agenda específica; dependendo da questão, impulsiona ou emperra a negociação. O modelo da ONU de consenso entre 193 países, sendo que todos têm poder de veto, torna as negociações demoradas e complexas. O Brasil logrou um consenso, mas, para isso, como disse a presidente Dilma Rousseff, foi necessário recuar em diversos pontos. O setor privado entende o documento como um ponto de partida, estamos prontos para utilizar o “Futuro que Queremos” como tal no âmbito nacional. Trabalharemos com o governo para assegurar que a implantação seja bem sucedida e para que alcancemos a escala necessária para os desafios presentes e futuros.
As futuras metas de desenvolvimento sustentável são consideradas factíveis pelas empresas ou apenas mais um exercício de retórica da ONU?
Marina Grossi – As futuras metas para o desenvolvimento sustentável são importantíssimas para o alinhamento de todos os atores. Inclusive, o documento do World Business Council for Sustainable Development (WBCSD), o “Changing Pace”, lançado na Rio+20 aponta a definição de metas como o primeiro passo para alcançar o desenvolvimento sustentável. Apesar de globalmente ainda termos muito a fazer para alcançar os Objetivos do Milênio, foram redirecionadas ações de governos, sociedade civil e empresas, promovendo sinergias monitoráveis.
veja.abril.com.br
Principal articuladora do setor privado brasileiro no processo da Rio+20, a presidente-executiva do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), Marina Grossi, sai da conferência satisfeita com a participação mais ativa dos 'Major Groups', nos quais as empresas estão incluídas. Em relação a resultados, sua preocupação é ampliar o horizonte de análise para além do documento oficial. "A maior transformação acontece fora do ambiente da ONU. As empresas e também as cidades deram exemplos claros disso, ao apresentarem propostas concretas para o desenvolvimento sustentável", disse.
Marina atuou nas negociações do Protocolo de Kyoto, representou o G77 mais China na área de Mecanismo Financeiro, foi assessora do Ministério da Ciência e Tecnologia e fundou a Fábrica Éthica Brasil onde lançou a iniciativa “Carbon Disclosure Project”. Depois, como coordenadora da Câmara do Clima no Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), ajudou a trazer para o Brasil o “GHG Protocolo”, a ferramenta mais usada para medir as emissões de gases de efeito estufa. Na sexta-feira, após o encerramento da Rio+20, ela falou ao site de VEJA.
Qual é o seu balanço da Rio+20? Representa o marco histórico indicado por Ban Ki-moon?
Marina Grossi – Ainda pode demorar alguns meses para avaliarmos o real impacto de uma Conferência do porte da Rio+20. Além do documento oficial, centenas de acordos e compromissos foram firmados. A Rio+20 é um marco histórico no processo adotado pela ONU e pelo governo brasileiro. Foi a primeira vez que as Nações Unidas buscaram uma participação ativa dos “Major Groups”, nos quais as empresas estão incluídas. Ficamos satisfeitos com essa tentativa e desejamos que o processo seja aprimorado e fortalecido no futuro.
A conferência chegou a ser acusada de se tornar uma grande rodada de business com clara influência do setor privado, por causa do tema-chave original, economia verde. Ao final, o setor privado foi parcamente privilegiado na declaração política e seu principal fórum de interesse (Global Compact) não teve maior destaque. Em sua avaliação, por que isso aconteceu?
Marina Grossi – O fato de a Economia Verde ser o tema da Rio+20 já tem um simbolismo muito forte. Se compararmos com 20 anos atrás, o reconhecimento do setor privado hoje é muito maior. Mas a maior transformação acontece fora do ambiente da ONU. As empresas e também as cidades deram exemplos claros disso, ao apresentarem propostas concretas para o desenvolvimento sustentável. No dia 22/06, por exemplo, o CEBDS apresentou o documento Visão Brasil 2050 – Uma nova agenda de negócios para o país, que tem o propósito de apresentar uma visão de futuro sustentável e qual o caminho possível para alcançá-lo. É um ponto de partida que pretende ser a base para o planejamento estratégico das empresas brasileiras. É também a contribuição do setor empresarial para a sociedade brasileira na busca da efetiva implantação do desenvolvimento sustentável. Independentemente disso, penso que é possível ampliar a participação do setor privado nos processos decisórios das Conferências da ONU.
O que ficou fora da declaração política e que prejudica a atuação das empresas em prol do desenvolvimento sustentável?
Marina Grossi – Inicialmente, é preciso reconhecer o esforço e o mérito do governo brasileiro para conquistar o consenso. Dentro do ambiente da ONU, com quase 200 países defendendo interesses próprios, esse é um desafio hercúleo, que a diplomacia brasileira soube administrar. Por outro lado, também é necessário reconhecer que o documento reflete pouca ambição, mas que foi um passo a frente. É um “chão” para que os países possam construir uma estrutura própria capaz de estimular o desenvolvimento sustentável considerando suas características regionais. A sustentabilidade é uma questão irreversível, um caminho sem volta. O fato é que temos um documento aprovado por todos os países e que inclui assuntos importantes como os objetivos do desenvolvimento sustentável, capital natural, consumo sustentável e os oceanos. Por outro lado, gostaríamos de ter visto um posicionamento mais enfático sobre transparência (relatórios de sustentabilidade), inclusão de externalidades, direcionamento de incentivos e taxas para economia verde e fortalecimento de parcerias público-privadas.
Como o setor privado considerou a atuação dos diferentes países na Rio+20? Quem emperrou mais, quem impulsionou? E a postura brasileira, como foi avaliada?
Marina Grossi – Cada país tem uma agenda específica; dependendo da questão, impulsiona ou emperra a negociação. O modelo da ONU de consenso entre 193 países, sendo que todos têm poder de veto, torna as negociações demoradas e complexas. O Brasil logrou um consenso, mas, para isso, como disse a presidente Dilma Rousseff, foi necessário recuar em diversos pontos. O setor privado entende o documento como um ponto de partida, estamos prontos para utilizar o “Futuro que Queremos” como tal no âmbito nacional. Trabalharemos com o governo para assegurar que a implantação seja bem sucedida e para que alcancemos a escala necessária para os desafios presentes e futuros.
As futuras metas de desenvolvimento sustentável são consideradas factíveis pelas empresas ou apenas mais um exercício de retórica da ONU?
Marina Grossi – As futuras metas para o desenvolvimento sustentável são importantíssimas para o alinhamento de todos os atores. Inclusive, o documento do World Business Council for Sustainable Development (WBCSD), o “Changing Pace”, lançado na Rio+20 aponta a definição de metas como o primeiro passo para alcançar o desenvolvimento sustentável. Apesar de globalmente ainda termos muito a fazer para alcançar os Objetivos do Milênio, foram redirecionadas ações de governos, sociedade civil e empresas, promovendo sinergias monitoráveis.
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