Um sistema de alerta de deslizamentos de terra, uma geladeira portátil movida a energia solar, um robô faxineiro e um desfribilador automático. Os produtos listados já existem e são comercializados por grandes empresas. A novidade, porém, é que eles foram adaptados por jovens inventores, que criaram produtos alternativos com as mesmas funções, a custos muito reduzidos.
Os projetos estão expostos até esta quinta-feira (24/3), na maior feira de ciências do país, chamada Feira Brasileira de Ciência e Engenharia (Febrace), que acontece na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP). A edição deste ano conta com 302 projetos, desenvolvidos por 679 estudantes de 14 a 20 anos, de todo o país.
“Existem soluções mirabolantes no mercado, que o bolso do brasileiro não permite o acesso. Os meninos estão agindo como os chineses e reinventando os produtos com coisas novas”, explica a coordenadora da Febrace, Roseli de Deus Lopes. “Um grupo de alunos criou um robô que limpa o chão, que inclusive é fabricado pela LG. O diferencial é que eles conseguiram baratear a tecnologia”.
Para isso, os alunos da Escola Estadual Souza Naves, de Rolândia (PR), reutilizaram materiais de computadores e pratos de xaxim para fazer o robô. Trata-se de um disco que desliza sob o chão, sugando partículas de sujeira. Devido a sensores, ele tem a capacidade de desviar dos móveis. Nas lojas o equipamento custa cerca de R$ 6.000. O robô alternativo fica por R$ 90.
“Na nossa escola teve um corte de zeladores e sobrou muito serviço para os que ficaram. Por isso pensamos em criar o robô para ajudá-los”, conta um dos inventores, Leonardo Henrique Mendes, de 16 anos, que está no terceiro ano do ensino médio. “Partimos de materiais recicláveis e de uma técnica chamada BIM, que permite o robô desviar dos móveis”.
Apesar da economia, a coordenadora da feira destaca que o objetivo do evento não é o produto finalizado. “Queremos fomentar uma prática pedagógica inovadora, com os alunos propondo pesquisas, lendo, aprendendo e articulando todas as disciplinas da escola”, avalia.
Outro caso de tecnologia útil e barata é um sistema para alertar moradores de encostas sobre deslizamentos de terra. Inventado pelo estudante Isaias Campos Júnior, que está no terceiro ano do ensino médio do Colégio Estadual Semiramis, de Ubatuba (SP), o sistema custaria R$ 65 para o poder público.
Trata-se de um pêndulo depositado dentro do solo. Ele se move e aciona uma sirene quando acontecem tremores de terra imperceptíveis para os moradores da região, mas que precedem os deslizamentos.
“Os solos do litoral são compostos por uma camada de rocha e em cima terra. Quando chove muito a água não infiltra pela rocha, encharca o solo e acontecem os deslizamentos”, explica Campos. “Eles provocam tremores de terra que vão aumentando até o desmoronamento. Com o sistema poderíamos prever os riscos ainda no início”. O jovem pretende apresentar a ideia para a prefeitura de Ubatuba.
No interior, as alunas da Escola Técnica de Limeira (SP) desenvolveram uma geladeira portátil movida a energia solar, que pode ser levada para a praia. Por substituir o silício das placas solares por um material semelhante chamado gratzel, as meninas finalizaram o projeto com o custo de R$ 400. No mercado, o produto custa cerca de R$ 1.200.
No Rio de Janeiro (RJ), estudantes do Colégio de Aplicação Emmanuel Leontsinis desenvolveram um desfibrilador automático que identifica se há arritmia cardíaca e dispara uma corrente elétrica para normalizar os batimentos. O produto original custa R$ 16 mil, mas o desenvolvido pelos estudantes sai por R$ 700. A ideia é democratizar o aparelho e evitar 95% das 300 mil mortes anuais causadas por arritmias fortes.
Na feira, também estão expostos um sistema que desliga o carro caso detecte álcool no motorista, por R$ 50, da Fundação Nokia de Manaus (AM) e um sistema de alarme a distância, que custaria R$ 100, desenvolvido por alunos de Pelotas (RS).
sarahfernandes@aprendiz.org.br
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